Getulio Fonseca termina sua gestão à frente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs) em 30 de junho de 2016. Despede-se do comando da maior entidade de classe industrial da Serra tendo enfrentado uma crise sem precedentes no segmento metalmecânico, principal motor econômico da região. Nesta entrevista exclusiva à colunista, o empresário fala das perspectivas e dos desafios das empresas e dos trabalhadores nesse contexto de incertezas:
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Caixa-Forte: Qual a avaliação sobre a profunda crise pela qual passa o setor metalmecânico?
Getulio Fonseca: A crise atual é a consequência de um país sem governo e sem planejamento. A indústria brasileira de transformação vem perdendo participação no PIB ano a ano, e a falta de investimentos está levando a um atraso histórico e principalmente tirando a oportunidade de empregos de milhões de brasileiros que acreditaram num Brasil com um futuro promissor e continuado a todos. Essa crise nos obriga a repensar o que queremos da nossa cidade no futuro, que tipo de empresas precisamos para ocupar a mão de obra disponível.
Precisamos diversificar a matriz produtiva?
Hoje a economia local está dependente de algumas grandes empresas e a crise afeta verticalmente toda a cadeia, impactando principalmente as pequenas e médias que dependem diretamente das companhias maiores. Para diminuir a pressão nas grandes, é necessário revermos a nossa matriz industrial, sem perder o foco no metalmecânico. Precisamos de empresas com alta tecnologia, com potencial exportador e que possam absorver o nosso mercado interno. Porém, poder público, vereadores, secretários e prefeito precisam estar aptos e conscientes para a necessidade de mudanças.
É a pior crise que já presenciou?
Como empregado com carteira assinada, passei por diversas crises, mas não me atingia diretamente até porque não imaginava o sacrifício que a empresa fazia para honrar os compromissos. Agora, como empresário, com certeza, essa é a maior pela qual estamos passando.
Chegamos ao fim do túnel?
Não podemos perder a confiança que este enorme Brasil tem salvação e que pode estar próximo o início da recuperação almejada por todos. Os dados econômicos mostram que retornaremos aos índices de 2013 somente em 2021. Por isso, temos de acreditar e trabalhar muito, porque é isto que sabemos fazer.
Quantas vagas o setor fechou em Caxias com a crise?
A redução dos postos de trabalho iniciou em agosto 2013 e até o final de março deste ano foram fechadas 18.434 vagas. No primeiro trimestre de 2016, já foram dispensados 1.400 trabalhadores. Em novembro de 2011, o setor empregava em Caxias do Sul 55.224 trabalhadores e hoje está com 35.600.
Em faturamento, quais as perdas do segmento metalmecânico na cidade?
O faturamento médio do setor até 2014 foi de R$ 21,8 bilhões. Em 2015, reduziu para R$ 13,6 bilhões, uma queda de aproximadamente 40%. Para 2016, continuando neste ritmo, o faturamento do setor deverá ficar em R$ 11 bilhões, mais uma redução de 19%. A redução de faturamento tem consequência direta no emprego. Estamos voltando ao ano de 2003 em todos os índices.
Quais as projeções para 2016 e para 2017?
Com a mudança de governo, poderemos ter a esperança de novos rumos e com isto ainda planejarmos 2016 igual a 2015. E para 2017 prevemos uma recuperação gradual do mercado, quando poderemos planejar alcançar os índices de 2014, quando faturamos R$ 19,2 bilhões e gerávamos 45,5 mil empregos. A crise existe só no mercado doméstico. Temos produtos e qualidade para vendermos na maioria dos países, principalmente com foco nos países africanos, América Latina e Caribe, onde nossos produtos ainda estão competitivos e há uma sinergia com o Brasil. Torcermos para que a mão de obra capacitada não tenha se perdido ou migrado, o que dificultaria ainda mais a retomada das indústrias.
Como manter o otimismo diante desses números?
É muito difícil manter o otimismo quando as contas chegam e o faturamento cai mês a mês, e os clientes vão cancelando pedidos já colocados, derrubando todas as projeções planejadas. Mas temos que enfrentar esta crise como se fosse a última e pensarmos que temos como obrigação, mesmo com todas as dificuldades e empecilhos, de continuarmos tendo orgulho de gerarmos ou mantermos os empregos.
Quais conselhos você dá a empresários e trabalhadores neste momento de incertezas?
Esse é o momento das nossas empresas compradoras se voltarem para Caxias, ou seja Caxias compra de Caxias, com isso manter vivas as empresas abastecedoras. Caso contrário, numa retomada a curto prazo, a dificuldade será ainda maior pela falta das pequenas e médias empresas do segmento. A ajuda deverá ser mútua. Os trabalhadores também sofrem, tanto pela incerteza de continuarem empregados quanto de receberem o merecido salário. Salário não podemos e não devemos reduzir, mas, para mantermos a competitividade e os empregos, temos de pensar em congelar com base em 2015, porque qualquer aumento neste momento de queda acentuada de vendas tem reflexo direto no emprego.
Qual sua opinião sobre o processo de impeachment contra a presidente Dilma
Esse processo é necessário para o futuro do Brasil, porque Dilma Rousseff não tinha mais capacidade de governar e o programa de Michel Temer recupera a curto prazo o otimismo da indústria e dos investidores, sem esquecer do social, com base no retorno de uma indústria forte que gera emprego e renda. Nas áreas-chave, está se cercando de pessoas competentes e com farto conhecimento do setor.
Caixa-Forte
"Estamos voltando ao ano de 2003 em todos os índices", diz presidente do Simecs, em Caxias
Getulio Fonseca admite que esta é a pior crise que enfrentou na sua carreira de empresário
Silvana Toazza
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