
Não é com a intenção de fazer uma figura de linguagem que a equipe dos Jardins Criativos trata como “uma sementinha” o projeto que tem na sustentabilidade e na educação ambiental duas de suas premissas. Nesta semana, moradores do bairro Santa Fé e representantes de entidades convidadas foram apresentados à iniciativa capitaneada pela fotógrafa Liliane Giordano, que irá levar oficinas para crianças e adolescentes e terá como um dos pontos altos a criação de uma obra de arte comestível, promovendo mais segurança alimentar para a comunidade.
— A gente tinha uma expectativa positiva, mas foi muito gratificante o resultado destes primeiros encontros, tanto com os pais quanto com entidades convidadas. Essas pessoas todas querem fortalecer o projeto. Também já recebemos o contato de cinco ou seis escolas que também querem fazer parte deste diálogo de criação, para que possam replicar de alguma forma uma ideia de horta, de trabalho voltado para o meio ambiente — destaca Liliane.

O primeiro mutirão de plantio deve ocorrer no dia 22 de abril, quando se comemora o Dia da Terra. O local escolhido para concentrar todas as ações é o Centro de Atenção à Criança e ao Adolescente Murialdo, onde são atendidas 230 crianças e adolescentes de cinco a 15 anos. Parte do programa prevê a pintura de um mural em uma extensa parede junto à quadra de esportes do espaço, que será assinada pelos artistas visuais Emerson Sutil Lima e Felipe Borges, ambos criados no Santa Fé.
— A gente criou um painel que representasse a floresta e a fauna, mas também a comunidade, com alguns símbolos que vão representar os moradores, para que se sintam representados no projeto. Também teremos um espaço reservado para as crianças que participarem da oficina de graffiti. Pelo fato de estarmos numa área mais alta da Zona Norte, o graffiti vai poder ser visto à distância e chamar a atenção para o que fizemos aqui — antecipa Emerson.
Dois integrantes seminais recrutados para a equipe estiveram em Caxias do Sul para participar do lançamento do projeto e fazer uma visita técnica: o artista plástico francês Jean Paul Ganem e o fundador da ONG Dia da Terra Brasil, Mozart Mesquita. A dupla trabalha em parceria desde que Mozart descobriu um trabalho feito por Jean no Canadá, que envolvia a criação de obras comestíveis, e o convidou para replicar o projeto em São Paulo.

— O Dia da Terra veio com o Jean do Canadá para o Brasil, e logo entendemos que aqui lidaríamos com uma desigualdade social que eles não lidam lá, e também com a realidade da educação pública que os canadenses não lidam. Indo a lugares que têm mais vulnerabilidade social para trabalhar dentro deste contexto de mudança climática que a gente está passando, veio a ideia de fazer obras de arte comestíveis. Em São Paulo, num parque no extremo leste da cidade, foi colhido junto com a comunidade 40 quilos de batata doce, além de coentro, rúcula, manjericão. Esse tipo de iniciativa precisa ser vista como algo que, embora pareça óbvio, é uma oportunidade de dar maior produtividade a terrenos férteis que estão ociosos. Pois é surreal a gente falar de fome num país como o Brasil, e projetos como este são uma sementinha para despertar o interesse e contaminar positivamente — diz Mozart.

Para o francês, cujo trabalho pode ser conferido no Instagram (@jeanpaulganem), o aspecto mais importante dos Jardins Criativos é a conscientização de novas gerações:
— Vejo que as crianças, os pais e a comunidade estão muito interessados. O foco é que seja um projeto para as crianças. Para que elas entendam o que é a natureza e o que ela pode nos oferecer quando a gente cuida bem dela. Mas isso é mais eficiente ainda se for feito de uma forma lúdica, num lugar onde a brincadeira está presente.
O projeto foi contemplado no edital Territórios Criativos (2024), da Secretaria Estadual de Cultura, que selecionou propostas de intervenções artísticas em territórios do programa RS Seguro COMunidade, com verba total de R$ 2 milhões para contemplar 17 propostas.