O 24º Caxias em Cena entra em sua última semana com um espetáculo no qual a passagem do tempo é, ao mesmo tempo, tema e personagem. Miêdka - Uma Metáfora do Encontro, da Cia. In Saio (SP), traz os bailarinos sexagenários Claudia Palma e Armando Aurich, e a septuagenária Ana Mondini, em coreografia que celebra uma amizade construída através da dança. As duas apresentações ocorrem na Sala de Teatro Prof. Valentim Lazzarotto (Centro de Cultura Ordovás), terça e quarta-feira, às 19h30min.
O espetáculo estreou no ano passado em São Paulo, sendo agraciado como Melhor Elenco no Prêmio APCA de Dança 2023, conferido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. No palco, o trio reunido após 25 anos compartilha memórias das décadas de 1980 e 1990, quando trabalhavam juntos até Ana Mondini se mudar para Portugal, onde ainda reside. Ao invés de revisitar coreografias do passado, os dançarinos se expressam por movimentos que traduzem seus afetos e os permite explorar as possibilidades de seus corpos atuais.
- O Miêdka é sobre um encontro muito bonito, que retrata um pouco de toda nossa trajetória, tanto juntos quanto separados. É um projeto muito forte, que emociona o público por estar diante de corpos velhos que têm suas dificuldades, mas que se movem com muita beleza, que se comunicam com os corpos que foram na juventude, que trocam afetos. É um lado muito bonito da dança contemporânea permitir essa diversidade - comenta Cláudia.
Embora seja paulistana e resida na capital paulista, Claudia Palma tem uma estreita ligação com Caxias do Sul. Em 1997, foi convidada pela então diretora da Cia. Municipal de Dança, Sigrid Nora, a fazer uma das coreografias do espetáculo inaugural do grupo, 1, 2, 3 - Uno Duo. Claudia retornaria ainda a Caxias com outras duas criações suas, Entrecorpo (2008) e Um Outro Corpo (2011). A fim de resgatar mais algumas memórias, uma hora antes de cada espetáculo o trio de bailarinos convida Sigrid para participar do bate-papo "Dança e Etarismo - A potência das Idades".
_ Enquanto pessoas velhas dançantes, a gente teve muita vontade de trazer este assunto à tona, sabendo que vivemos ainda num país muito preconceituoso, em que a pessoa com mais de 50 anos é considerada velha. No mundo da dança, isso se acentua ainda mais. A ideia, então, é buscar entender como é a questão do etarismo na dança em cada região por onde o espetáculo passa, mas falar também das muitas potências de cada idade _ explica Cláudia Palma, que também assina a direção de Miêdka.
Ainda como atividade relacionada ao espetáculo, Ana, Cláudia e Armando irão ministrar hoje à tarde uma oficina de dança para interessados em mergulhar nos procedimentos coreográficos da Cia. In Saio. Todas as atividades de circulação do projeto foram viabilizadas pela Bolsa Funarte de Dança Klaus Vianna, que o grupo recebeu em 2023.