Um dos rostos mais conhecidos do telejornalismo brasileiro, especialmente pelas mais de duas décadas como correspondente internacional sediada em Roma, a jornalista da TV Globo Ilze Scamparini estará em Caxias nesta segunda-feira (26) para lançar seu livro de estreia, o romance "Atirem direto no meu coração" (Harper Collins, 2021, 304 páginas). A sessão será na UCS, restrita a convidados. Por telefone, a jornalista concedeu entrevista à Rádio Gaúcha Serra. Confira a seguir os principais trechos:
Como surgiu a ideia de escrever um livro com a temática marcada por experiências em coberturas internacionais de conflitos?
Ilze Scamparini: Foi por acaso. Conheci uma pessoa que tinha lutado como soldado de milícia na Guerra do Kosovo (1998-1999) e achei aquilo muito interessante, porque é muito difícil a gente ver a história contada não pelo olhar da vítima, mas através de milicianos, que fazem essa espécie de "trabalho sujo" na guerra. Escrevi meu livro antes do início da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, e estou vendo se repetir aquilo que vivi ao longo dos 10 anos em que preparei essa história. O livro conta o drama dessa pessoa incrível, tudo aquilo que ela viveu, mas de uma forma romanceada. É um livro livremente inspirado em fatos reais.
Ouça a entrevista:
Tens planos de escrever também um livro sobre a tua cobertura do Vaticano, com a qual os telespectadores mais te associam?
Tenho, sim. Inclusive já comecei a contar um pouco sobre esses 23 anos, mas tem de ser escrito aos poucos, usando muitas vezes a madrugada, devido à falta de tempo. É uma tarefa complicada.
Algo que admiro muito em ti é a coragem de fazer perguntas corajosas, como a que fizeste ao Papa Francisco sobre o "lobby gay". Na personagem do teu livro tem algo desse traço da tua personalidade?
Não tem nada pessoal, não. Foi a história de uma pessoa que eu conheci de certa maneira, sentada e entrevistando ela, sem ser amiga dela. O livro não espelha nada do autor. A pergunta ao Papa foi uma decisão muito rápida que tive de tomar. O lobby gay é a força de homossexuais dentro da igreja, que acabam distribuindo cargos privilegiando pessoas que são homossexuais. Após refletir sobre a minha pergunta ele fez aquela frase incrível: “quem sou eu pra julgar?” Isso abriu uma nova página na igreja. Os homossexuais passaram a ter voz e a ser contemplados também nas discussões do sínodo. Foi a espontaneidade do Papa que deu aquele resultado incrível. Teve outro lado, negativo, de tradicionalistas que não gostaram da pergunta, e muito menos da resposta. Mas esses embates entre forças mais progressistas ou menos progressistas sempre existiram.
Que outros momentos da tua trajetória profissional tu destacas como igualmente marcantes?
Nas coberturas do Vaticano houve viagens papais que foram muito importantes de observar. Por exemplo, quando o Papa João Paulo II foi à Ucrânia, num momento em que preponderava a igreja ortodoxa ligada à igreja russa, que não via aquela viagem com bons olhos. Vi ali um papa sem peregrinos, porque as ruas estavam praticamente vazias, e muito protesto. Foi a primeira vez que vi protestos públicos contra um papa. Foi um momento realmente forte de ser vivenciado. Da mesma forma, a cobertura da morte de João Paulo II (em 2005) foi uma experiência incrível de todos os pontos de vista. Eu acompanhei os últimos sete anos de vida dele, tive uma longa convivência com toda a doença dele, mas aqueles últimos dias foram muito emocionantes. E, depois, ver três milhões de pessoas na praça e nas ruas ao redor. Foi impressionante, porque havia pessoas de todas as religiões . E o mundo não via uma transição papal há quase 27 anos. Grande parte das pessoas ou nunca tinha visto ou nem lembrava como era aquele ritual tão antigo.
Caxias do Sul é uma cidade com forte presença de imigrantes italianos. Já vieste à cidade ou à região alguma vez?
Alguns anos atrás fiz um Globo Repórter na Serra contando a história da imigração italiana, e contamos também como o pinhão ajudou na sobrevivência da primeira leva de italianos imigrantes. Voltar a essa região é razão de muita alegria, assim como Porto Alegre. Tenho amigos no Rio Grande do Sul e um destes amigos deu a ideia de passar uma semana por aí. Agora outros amigos, de outras regiões, estão com esse mesmo entusiasmo para que eu vá também visitá-los (risos). Sempre quis poder viajar mais pelo Brasil.