Numa entrevista à revista Vanity Fair, o cineasta Lukas Dhont, roteirista e diretor de Close, filme que estreia nesta quinta-feira em Caxias do Sul, comentou sobre como uma pesquisa comportamental serviu de inspiração para um dos filmes que mais chamou a atenção nas premiações internacionais de 2022.
O estudo citado foi conduzido pela psicóloga estadunidense Niobe Way, que acompanhou a vida de 150 garotos ao longo de cinco anos. Foi um recorte da pesquisa em que a psicóloga aborda a questão da intimidade entre amigos homens, que deu a Lukas o insight para o filme sucessor de sua obra que até então havia alcançado mais sucesso, Girl, de 2018.
- Quando ela (Niobe) os entrevistou aos 13 anos e eles falam sobre seus amigos, eles se atrevem a usar a palavra "amor" um para o outro da maneira mais terna e bonita. À medida que envelhecem e as expectativas de masculinidade se tornam mais fortes neles, ficam completamente desconectados dessa linguagem. Sinto que vivemos em uma sociedade onde masculinidade e intimidade são conceitos muito difíceis de unir. Dizemos aos homens que o único lugar onde eles podem encontrar intimidade é através do sexo e que expressar amor e vulnerabilidade para outro homem parece ser algo incrivelmente complexo. Frequentemente, temos imagens de comportamento tóxico, de violência, de guerra, representadas quando se trata de masculinidade, mas raramente vemos uma amizade íntima e bonita em que dois meninos se deitam juntos na cama e só querem estar tão próximos (close, em inglês) - comentou o diretor.
Ambientado numa cidade de interior e na zona rural desta mesma cidade, Close nos apresenta Léo e Rémi, dois jovens que são melhores amigos e que passam dia e noite juntos, compartilhando inclusive a cama quando se visitam. Ao iniciar o ano letivo numa nova escola, porém, o forte laço que os une é colocado à prova quando surgem comentários sobre a sexualidade dos dois, sugerindo que formariam um casal. E nisso podemos citar dois méritos do filme: o primeiro é não dar ao espectador nenhuma certeza quanto a isso. O segundo, mostrar o quanto isso não importa numa narrativa sobre o afeto entre duas pessoas.
Fato é que cada um dos meninos reage ao bullying à sua maneira, e nisso ocorre uma ruptura entre os protagonistas, o que acarreta uma brusca mudança de rumos na história. É quando ganha espaço no filme Sophie, a mãe de Remi, uma enfermeira que busca entender o que fez ruir a amizade dos dois amigos até então inseparáveis (e não se pode avançar muito além daqui sem correr o risco de dar spoilers).
Pela maneira tão densa quanto sutil com que aborda questões de masculinidade tóxica, homofobia e os ritos de passagem da infância para a adolescência, Close justifica a indicação a premiações importantes, como o Globo de Ouro, na categoria Filme em Língua Estrangeira, e o Oscar de Melhor Filme Internacional (ambos ficaram com Argentina, 1985, de Santiago Mitre).
PROGRAME-SE
O quê: filme Close (2022), de Lukas Dhont
Classificação: 12 anos
Quando: estreia nesta quinta-feira (2). Em cartaz até 12 de março, com sessões às 19h30min, de quinta-feira a domingo.
Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás, em Caxias do Sul)
Quanto: R$ 16 e R$ 8 (meia entrada)