Esperando Godot, do dramaturgo Samuel Beckett (1906 - 1989), tem no absurdo a sua essência. Ao criar uma narrativa centrada na presença dessa peça de teatro, o filme Uma Noite de Triunfo cria conexões entre o absurdo beckettiano e a realidade também absurda enfrentada por internos de uma prisão na França. Dirigido por Emmanuel Courcol, o longa é baseado numa história real, sobre detentos que ficaram conhecidos ao encenarem o clássico espetáculo de Beckett.
A primeira parte da história é pautada na estranheza provocada pelo contato do professor de teatro Etienne (Kad Merad) com seus novos alunos. Primeiramente, o grupo não se mostra muito interessado na arte de encenar e prefere criar pequenas apresentações de stand-up comedy ao invés de se embrenhar numa história mais densa. Mas tudo muda quando o professor de teatro desafia os alunos com o texto de Beckett.
O dedicado Etienne busca várias alternativas para apresentar o grupo ao universo do teatro do absurdo. Aos poucos, os alunos vão embarcando na ideia e os talentos para atuação vão surgindo, para a animação de todos. Entre os muitos percalços que surgem no caminho – afinal, investir em teatro num ambiente hostil como o de uma prisão certamente não ia ser uma tarefa fácil – o contato do grupo com o texto de Beckett acaba fazendo os detentos criarem pontes com sua própria realidade. “A esperança também é um absurdo”, sugere um deles.
Outra conexão possível se dá na espera, elemento primordial na narrativa de Beckett e tão comum na vida dos personagens de A Noite do Triunfo. O professor Etienne, por exemplo, vive uma longa espera pela aprovação da filha, enquanto cada um de seus alunos parecem também ter anseios que nunca são alcançados, como a presença do próprio Godot.
O diretor explora maneiras de criar intersecções entre o texto e a estética teatrais com as possibilidades dramáticas do cinema, indo muito além do que somente o ato de filmar uma peça. Uma das cenas mais emocionantes do filme se dá quando os detentos ensaiam o texto de Beckett cada um de sua cela, gritando alto pela janela de grade, movimentação registrada pela câmera que acompanha cada personagem.
Num geral, a mensagem mais reveladora de A Noite do Triunfo é até óbvia: a arte derruba grades, a arte liberta. De alguma forma, o longa explora justamente o quão literal essa sentença pode ser.
Programe-se
- O quê: comédia dramática francesa “A Noite do Triunfo”, de Emmanuel Courcol.
- Quando: estreia nesta quinta (26) e fica em cartaz até o dia 5 de junho, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
- Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
- Quanto: R$ 16 (geral) e R$ 8 (estudantes, idosos e servidores municipais).
- Duração: 1h46min.
- Classificação: 14 anos.