A Felicidade das Pequenas Coisas é apenas o segundo filme que o Butão, pequeno país localizado no sul asiático, inscreve no Oscar. A produção permanece na disputa para abocanhar uma vaga entre os indicados a melhor filme internacional: um feito e tanto para o diretor e roteirista estreante Pawo Choyning Dorji. Filmado numa das regiões mais remotas do mundo, driblando o frio e as tempestades e contando com um elenco em sua maioria formado por não profissionais, o longa oferece uma história tocante sobre a possibilidade de conectar com as pessoas e com o ambiente ao seu redor.
A tradução do título para o português – sempre alvo de muita controvérsia no universo do cinema – acabou dando cara de história de autoajuda ao longa. Mas não se trata bem disso. A Felicidade das Pequenas Coisas é sobre um jovem um pouco arrogante que não aguenta mais seu trabalho como professor de escola pública e sonha com o dia em que poderá largar tudo e ir para a Austrália. A maior aspiração de Ugyen Dorji (Sherhab Dorji) é tornar-se um cantor famoso. A música, aliás, terá um papel muito importante no roteiro construído por Pawo Choyning Dorji.
Antes de conseguir deixar a cidade onde mora – Timbu, a capital do Butão – para cruzar o oceano em busca de outra vida, Ugyen Dorji precisa terminar o contrato que possui com o governo e aceita o desafio de lecionar numa escola da localidade de Lunana (simpático nome que concede o título original do filme). O lugar fica nas proximidades do Himalaia e é acessível apenas a pé, ou melhor, é necessário uma semana de caminhada morro acima.
Ao chegar, o professor encontra um ambiente muito precário e sem as condições mínimas para ministrar suas aulas – até o papel é item de luxo por lá. Na outra ponta deste cenário caótico estão as crianças, educadas, curiosas e sedentas pelo aprendizado. Além delas, a própria comunidade também valoriza muito a chegada de Ugyen Dorji, que aos poucos percebe os esforços de todos para que ele se sinta em casa. Destacam-se aqui os personagens de uma pequena estudante da classe e do líder da aldeia, ambos construídos com muita verdade.
A Felicidade das Pequenas Coisas traz muitas simbologias em sua história. Uma delas está presente no iaque, um enorme animal que costuma viver nas montanhas. Sua figura representa a conexão e o respeito do povo de Lunana com a natureza, além de evocar uma questão poética (talvez profética) sobre “o filho que sempre retorna para casa”. Já a música, que tanto povoa o universo do professor antes de chegar a Lunana, acaba sendo redescoberta por ele de outra forma. Enquanto o iPod permanece sem bateria por conta da falta de eletricidade, o som incrível que Ugyen Dorji descobre vem das montanhas, da voz doce de uma jovem que canta para oferecer um presente a todos seres.
Oferecer, aliás, é um verbo importante, que surge conjugado de diferentes maneiras durante o filme. Mais do que uma história sobre como o contato com outras culturas pode gerar grandes transformações, A Felicidade das Pequenas Coisas busca sua essência na poesia da troca e na possibilidade mágica de se “tocar o futuro” do outro.
Programe-se
- O quê: drama “A Felicidade das Pequenas Coisas”, de Pawo Choyning Dorji.
- Quando: estreia nesta quinta (3) e fica em cartaz até 13 de fevereiro, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
- Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Rua Luiz Antunes, 312).
- Quanto: R$ 16 e R$ 8 (estudantes, idosos e servidores municipais).
- Duração: 110min.
- Classificação: 12 anos.