Uma das principais revelações da música brasileira na década passada, a cantora e compositora paulistana Anelis Assumpção, 41, desembarca em Caxias do Sul para ser a principal atração da 8ª Mostra Tum Tum e 8º Aldeia Sesc, neste sábado.
Filha do músico Itamar Assumpção (1949-2013), Anelis começou a carreira como backing-vocal do pai, na adolescência. Seu trabalho, porém, vai além da influência que recebeu desde o berço, misturando diversas sonoridades desde o reggae até a bossa nova, passando pelo rap. O mais recente de seus três álbuns, Taurina (2018), foi considerado o melhor disco do ano pelo Prêmio Multishow.
Com a companhia de Saulo Duarte na guitarra, Thomas Harres na bateria e Edy Trombone no trombone e percussão, o show em Caxias irá marcar o retorno de Anelis aos palcos, após o longo confinamento imposto pela pandemia. Antes de embarcar, a cantora concedeu entrevista ao Almanaque. Confira:
Almanaque: Em um post recente nas redes sociais, tu dizes que “a música anda salvando muita gente”. Como a música está te ajudando a atravessar esse período, e como é ajudar outras pessoas a vivenciar a pandemia de forma um pouco mais leve com a tua música?
Anelis Assumpção: A música tem me ajudado a atravessar não só a pandemia, mas toda a minha vida, que é permeada por música, quase como o líquido por onde navega o meu barco. Já nasci dentro de um ambiente onde a música tinha um papel quase religioso nas nossas vidas e acredito muito nessa potência de um disco, de uma canção, de um show, na possibilidade de encontrar pessoas, nessa magia orquestrada que acontece toda vez que dois, três, quatro corpos estão juntos combinando notas. É muito mágico, bonito e sublime.
Tu trabalhaste bastante nesse período pandêmico, mesmo distante dos palcos. Como é a sensação de poder voltar a ter o contato presencial com o público e a viajar para se apresentar, inclusive vindo pela primeira vez a Caxias do Sul?
É a primeira vez que vou a Caxias do Sul e é o meu primeiro show presencial desde o começo da pandemia, apresentando o meu repertório com os meus parceiros. É um sentimento muito interessante, quase como se tivesse começando, tem um sabor de primeira vez. E é, né? Primeira vez depois de passar por tudo que a gente passou. Estou muito animada pra fazer esse show.
Uma marca do teu trabalho é a mistura entre a modernidade e a ancestralidade. Como essa mistura de influências ajudou a construir a tua identidade musical?
Acho que a minha influência musical transpassa passado e presente. Meus filhos me estimulam a ouvir coisas, conhecer sons. Minha mãe também. Toda vida foi assim. É uma relação de frequências, de interesse. Teve um momento em que busquei entender mais minha própria história ancestral, dentro desse lugar invisível que a gente tem, como o povo preto do Brasil, de não conhecer a nossa própria história... a partir do momento em que você também consegue compreender de que regiões africanas seus ancestrais descendem, você também pontua e compreende seus desejos, instintos, intersecções... e conscientemente você também tem uma nova possibilidade que é pesquisar esses povos e essas culturas.
Eu vivo esse processo há alguns anos, é um processo muito lento e eterno, que acredito que não seja um doutorado de vida, é constante, e acredito que venha desse grande desejo de compreender essa grande mistura que aconteceu pra eu chegar aqui. E quando eu me misturo com uma pessoa, daí ver os meus filhos como são, os instintos, seus traumas, seus corpos, as raízes de tudo... talvez seja isso que me guie.
Acredito que tu estejas com bastante expectativa quanto a inauguração do monumento em homenagem ao teu pai em São Paulo. Como tu recebeste a notícia desse reconhecimento a Itamar Assumpção junto a outras quatro importantes figuras negras da nossa cultura, que serão igualmente eternizadas em monumento?
Eu não fui consultada, nem avisada, vi essas notícias literalmente pelas redes sociais. E aí vim procurar saber o que era aquilo, e na sequência da divulgação dos nomes nossa família foi procurada para participar de algumas decisões, dar algum suporte para o escultor. Às vezes quando penso nisso eu nem acredito. É muito bonito, muito grande, algo que a gente tem de estar feliz, grata e honrada, mas também alerta, porque são milhares de pessoas que devem ser homenageadas com nomes de avenidas, ruas, teatros, bustos em praças.
A gente viveu uma história muito injusta em relação a homenagens, o Brasil apagou muitas histórias. É claro que eu estou muito feliz de o Itamar ter sido uma das figuras escolhidas por sua contribuição para ser eternizado na maior cidade do país, mas a gente não pode descansar e nem deixar de cobrar que isso seja cada vez mais comum, e que mais pessoas sejam reconhecidas por suas contribuições para a cultura, para a ciência, para as artes, para o nosso próprio desenvolvimento social e civil. E, principalmente, em vida: a gente nunca deve esquecer de homenagear as pessoas enquanto elas estão vivas, produtivas e sendo maravilhosas.
Programe-se
O quê: 8º Aldeia Sesc Caxias do Sul
Onde: Largo da Estação Férrea
Quando: sábado, a partir das 14h
Quanto: entrada gratuita
Programação
14h: Coro Moinho/UCS
15h: Grupo Zingado
15h: Espetáculo "Andarilho" _ Cia. Garagem
16h: Patrick Oderiê
17h: Mostra Tum Tum _ Show Afroentes _ RS
18h: Mostra Tum Tum _ Show Anelis Assumpção _ SP
19h30min: "Concerto para um Novo Tempo" _ Orquestra Municipal de Sopros