Dezoito anos revistos pelo olhar de quem frequenta o Centro de Cultura Ordovás, em Caxias. Em cena, ou fora dela, alguns são artistas, outros curiosos, outros espectadores, outros intelectuais, outros apenas à procura de um abrigo para acolher sua sede por arte, cultura e lazer. Depoimentos carregados de paixão e fúria, como não poderia ser diferente quando se trata de um espaço cultural, que tem (ou deveria ter) como premissa a liberdade de expressão, múltiplas linguagens, embebecidas em diversas cores, sons e amores.
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Centro de Cultura é peça chave da cena caxiense
Mix Bazaar
Creio que foi em 2006 /2007 que decidimos usar o Ordovás como uma opção para o Mix Bazaar, tínhamos apoio na época da Secretaria de Cultura e ceder o espaço foi uma forma de promover a cultura em Caxias. Como vieram cerca de 50 expositores, tivemos que fazer uma tenda no pátio externo, por isso o tema da feira foi "O circo". Malabaristas, homens com perna de pau e palhaços recepcionavam os visitantes. Na parte interna, além dos expositores, tínhamos artistas plásticos e apresentações culturais, como algumas esquetes de teatro, pocket-show de música e a rádio Bazaar.
Patrícia Zouvi, 46 anos, produtora cultural
Berço literário
Pra mim, o Centro de Cultura é muito mais do que um espaço multicultural que abraça a diversidade, é também um berço. Foi no Ordovás, no espaço ocupado pelo Zarabatana Café, que lancei meus quatro livros. Quatro nascimentos literários meus aconteceram lá. Cada vez visito esse espaço, carrego comigo as lembranças de cada abraço, cada autógrafo, cada desejo de sucesso, cada pedacinho de arte que se sente em casa. Me sinto em casa no Ordovás, porque é o lugar onde todas as artes e humanidades se convergem.
Maya Falks, 37 anos, escritora
Cabaret Hitec
Eu arrisco dizer que, se hoje Caxias tem uma cena mais forte em música autoral, é por causa do Zarabatana, que deu oportunidade às bandas. Além é claro de outras atrações musicais, como a Gafieira e a discotecagem do DJ Mono. A estreia da nossa banda, Cabaret Hitec, foi na inauguração do Zarabatana. Aliado ao café, tinha a questão do Ordovás, como um promotor de arte. Na época em que a Sheila Zago comandava a seleção de filmes, lembro bem que ela trazia uma produções lado B. Lembro do Old Boy, mas haviam muitos filmes franceses, belgas, brasileiros. O Zarabatana juntou gente de cinema, teatro, música, cultura underground, que até então estava escondida em Caxias, facilitou para o pessoa trocar informações.
Rafael Taufer (Zuzuwah), 43 anos, músico
Memória afetiva
Preciso dizer que o Dr. Henrique Ordovás me trouxe ao mundo, foi o médico responsável pelo meu parto. O Centro de Cultura é muito importante para todos os artistas da cidade, se hoje produzimos arte que é premiada, se hoje temos reconhecimento fora daqui, tudo passou por esse espaço. Acho que não tem um artista de música autoral em Caxias que não tenha feito algo no palco do Zarabatana. O Comma só existiu, porque tinha um espaço como o Centro de Cultura Ordovás que abriu espaço para essas novas propostas musicais.
Luciano Balen, 45 anos, músico
Manifestações plurais
O querido Ordovás reúne manifestações tão plurais quanto festas juninas, carnavais, shows de rock'n'roll e debates filosóficos. É palco de duetos, despedidas e estreias de bandas. É onde encontramos aqueles filmes que as grandes salas não reverberam e onde há espaço para discutir seus significados e mensagens. É local de formação também, tendo sediado diversos cursos em várias áreas, alguns trazendo grandes nomes como a jornalista Ana Maria Bahiana e o especialista em cinema de horror Carlos Primati. O cinema de horror, aliás, foi brindado com sessões duplas periódicas, que iniciavam à meia-noite e se estendiam madrugada adentro, lotando a sala de cinema Ulysses Geremia com espectadores de clássicos do gênero.
Cíntia Hecker, 37 anos, jornalista
Maturação da arte
Na década de 30, minha avó trabalhava cuidando com zelo dos parreiras da Cantina Antunes e, mais tarde, minha mãe na elaboração das famosas bebidas que conquistaram o Brasil e porque não dizer o mundo, ou parte dele. Vinho e cultura é uma combinação perfeita, ave de mesma plumagem, porque assim como o bom vinho precisa de seu tempo de maturação também assim o é com a cultura seja ela a ramificação que for. Hoje, felizmente temos outros espaços culturais na cidade o que deixa um pouco solitário esse magnífico espaço. Quando percorro seu interior consigo ouvir a poesia que brota de suas paredes, a música que acalma nosso espírito nesse mundo tão conturbado.
Leandro Angonese, 49 anos, poeta
Espaço simbólico
A importância do Centro de Cultura para a cultura e a sociedade caxiense, me parece, tem diferentes níveis de entendimento. Começa pela apropriação, em si, de um espaço simbólico para o desenvolvimento econômico da cidade. Essa representatividade traz consigo uma série de arquétipos culturais e identitários, seja para o bairro, desde quando o prédio ainda abrigava uma cantina, seja pelo convívio que o local proporcionou para pessoas de diferentes pontos da cidade e de quem a visita. Um espaço como esse, que já foi referência econômica para Caxias, deve permanecer, com essa condição ampliada e reconhecida: ao atingir a maioridade, ele é, sim, um Centro de Cultura.
Dinarte Albuquerque Filho, 55 anos, poeta e jornalista.
Ponto de encontros
O Ordovás é o mais fiel abrigo cultural de Caxias. Uma das boas lembranças que tenho do Ordovás é de 2007, quando o ator Gutto Basso ampliou o palco e tomou o jardim como cenário na peça Van Gogh. A ocupação e valorização do mobiliário com a interação do público, na época foi inovador e desafiador. Tive a honra de participar ainda da exposição fotográfica coletiva Gênese II, da Sala de Fotografia Liliane Giordano, em 2013, instalada na Sala de Exposição do Centro de Cultura. Vida longa Ordovás! Siga assim, como um ponto de encontros, aprendizados, questionamentos e de trocas.
Nika Ferronato, 58 anos, produtora audiovisual
Ana Maria Bahiana no Ordovás
Embora eu seja frequentador esporádico, pelo fato de não residir em Caxias do Sul, já vivenciei momentos marcantes, quando por exemplo, conversei longamente com a crítica musical e de cinema, Ana Maria Bahiana, uma das minhas principais referências. Se não estou enganado, foi em 2012, quando ela veio para cá, ministrar um curso sobre crítica cinematográfica. Ou então, quando assisti filmes, que normalmente não se sustentam, no chamado "circuito comercial" como por exemplo, Cabra Cega, dirigido por Toni Venturi. Meus votos é que este Centro Cultural continue em atividade, e não sucumba ao obscurantismo e a ignorância, fatores que cada vez mais, operam em nosso cotidiano.
Cassiano Scherner, 52 anos, jornalista e doutor em Cultura e Comunicação Social
Saudosismo meio bossa meio rock
O Ordovás, para mim, carrega um grande significado afetivo, pois minha carreira teatral iniciou no mesmo período em que ele foi criado. Lembro de apresentar alguns espetáculos da Cia Teatral Atores Reunidos, dirigida pelo Raulino Prezzi (que saudades!!!), como Pic Nic no front! e Quase Amores, no teatro, que inicialmente ficava no segundo andar do prédio. Lembro dos projetos de Samba de Gafieira que o Zarabatana fazia todo mês, com entrada gratuita...juntava todo tipo de gente. Era lindo! Lembro da programação alternativa do cinema, aliás a rotina de quase todos os domingos era assistir a algum filme por lá e depois tomar um café no Zarabatana (o SlowDown com a Torrada Suprema sempre foi minha combinação favorita!). Lembro das bancas de defesas que aconteciam por lá para avaliação dos projetos que escrevíamos (Prêmio de Incentivo à Montagem Teatral, Fundoprocultura e depois Financiarte...saudades de todos aqueles incentivos também.)
Tefa Polidoro, 34 anos, atriz e pesquisadora
Espaço de história e potência
Tenho ótimas lembranças do Ordovás, morei na vizinhança por uns sete anos e mesmo antes muito frequentei exposição, gafieiras, cinema, debates. Também dancei por alguns anos no Provisório Corpo grupo de dança e ensaiávamos lá também. Lembro de nossas jantas no Zarabatana (trabalhei no Zaraba, inclusive), dos papos, das bandas, apresentações. É um espaço de muita história e de muita potência pra cidade.
Natalia Borges, 38 anos, escritora
Cultura enriquecida
O Centro de Cultura é um importante espaço que a cidade adquiriu, as sessões comentadas aos domingos, a Cia de dança e o charmoso Zarabatana Café com seus chorinhos enriqueceram a cultura na cidade.
Isadora Pisoni, 33 anos, produtora de eventos
Do jazz e outros quetais
O Centro de Cultura é um marco para toda a cidade e continua a ser um centro de encontros dos artistas e de fomento à cultura. Já toquei muitas vezes com o Comma por lá. Lembro que falamos com o Jê, para começarmos a fazer uns especiais de jazz com a banda Free Note Jazz Quartet. O primeiro foi sobre Miles Davis. Estreamos o projeto em uma noite de inverno, e estávamos com muito receio se haveria público, mas as pessoas compareciam e lotava. Depois fizemos especiais sobre Tom Jobim e Charlie Parker, movimentando uma cena dita do jazz instrumental. No dia da inauguração do Ordovás, a Orquestra de Sopros tocou, foi lindo, lembro ainda hoje como foi. Os ensaios ocorriam no segundo andar.
Beto Scopel, 39 anos, músico
Longa vida!
Ver o Ordovás chegar aos 18 anos é uma alegria. Acompanhei o nascimento desse espaço, bem como seu desenvolvimento. Assisti a inúmeros espetáculos de dança e teatro, participei de shows, apreciei exposições. Vivenciei a chegada do cinema e muitos bons momentos com amigos no agradável café instalado no local. Meu desejo é de vida longa ao Centro de Cultura e de outros locais como esse na nossa cidade.
Patrícia Pereira, 42 anos, atriz e jornalista
Da política à poética
Buscando na memória, uma primeira lembrança que tenho, é da comemoração do resultado das eleições para presidente, em 2002 (vitória de Luiz Inácio Lula da Silva), dos meus amigos, de outras pessoas, em um momento feliz para a cultura, aquilo me marcou bastante. Fiz a minha primeira exposição coletiva com a Marina Polidoro e Paulo Ivan, chamada Desalinha. Acho que Caxias merece e precisa de lugares assim. Além de tudo, tem o Zarabatana que é um lugar muito especial, que se deve muito a essas características de acolhimento e diversidade a eles, que sempre nos oferecem comida boas, bons papos e música boa. Vida longa ao centro de cultura.
Clarissa Daneluz, 38 anos, artista visual e doutoranda em Ciências da Comunicação
A nossa usina
O Ordovás sempre foi ensinamento pra mim, foi onde conheci o pessoal da dança, do teatro, do cinema. A única referência que eu tinha de centro cultural era a Usina do Gasômetro, em Porto Alegre. Então, em 2001, a gente foi contemplado com a nossa usina, em Caxias. Ah, e como esquecer da Gafieira, que era promovida pelo Zarabatana!
Jorge de Jesus, 48 anos, DJ e produtor cultural
Libra com regente em vênus
Foi com entusiasmo que celebrei a cena de inauguração do Centro de Cultura Ordovás em 2001; na época, eu retornava a Caxias, depois de uma década de estudos na capital. O Centro de Cultura nascia sob o signo de libra inspirado no amor e na regência de Vênus e a expressão da artes. O Zarabatana, do Jê e da Luci, trazia um legado anterior, o bar Azul & Blues; ou seja, todos ali, se conheciam e sim: era a época de colher os frutos. Fizemos muitos saraus espontâneos no espaço do Zara (como veio carinhosamente a se chamar depois); dançamos alegres gafieiras ao som dos Seresteiros do Luar; assistimos incríveis filmes cult na sala de cinema... com o desfrutar da arte se trilhava um caminho pelo coletivo e pouco a pouco se conquistando espaços, celebrações como o Financiarte (que já se chamou Fundoprocultura).. e por aí vai... É pena que, agora, a nuvem cinza e insípida cobre o horizonte, mas, como disse o poeta: "eles passarão". Desejo vigor ao Centro de Cultura - nosso conquistado espaço cultural! O grotesco, o conflito, o sombrio jamais terá força diante da arte, dos afetos, dos amores, pois estas expressões são o néctar da vida...
Ana Cardoso, 52 anos, professora
Na tela, filmes brazucas
Na abertura do cinema, exibimos Domésticas, do Fernando Meirelles, e na minha opinião mais importante ainda é que, na sessão do final de tarde, tínhamos uma sessão de curtas-metragens. Nos primeiros dias, exibimos, Palíndromo, Outros, Suco de Tomate, Final e O Poeta. Tenho muito carinho desses momentos e da oportunidade que Caxias teve de mostrar a produção cinematográfica brasileira. Lembro de participar de congressos de cineclube e de audiovisual, e de falarem que a sala de cinema do Ordovás tinha sido a sala que mais tinha exibido cinema brasileiro entre 2001 e 2002.
Sheila Zago, 40 anos, arte educadora e curadora de arte
Zaraba inspira a Paralela
Com certeza o Ordovás marcou muito, principalmente nas épocas de Gafieira, que a rua ficava lotada d gente. O Zarabatana inspirou muito a Casa Paralela, sim, por ser um local onde as coisas ocorrem mais cedo, sabe. Teve um tempo que era um espaço legal para as bandas independentes tocarem, toda sexta tinha função, essa época eu era muito frequentador.
Breno Dallas, 33 anos, produtor multimídia
Brilho que se perdeu
Eu tenho contato com o Ordovás há muito tempo e que foi crescendo aos poucos. Das memórias mais antigas, lembro de um espaço mais vivo, com mais diversidade. Só que essa diversidade diminuiu com o tempo. O Ordovás foi deixando de ser esse refúgio da cultura, mas gerido por uma gestão pública. É perceptível, quando entra o prefeito Daniel Guerra, o Ordovás perde o brilho. Hoje, sinto que não é um espaço que acolhe tanto, não por conta de quem trabalha no Ordovás, mas de quem gere a Cultura em Caxias. Vejo que a minha exposição foi quase um marco, porque a gestão impediu que ela pudesse acontecer, e logo após, houveram outras restrições.
Rafael Dambros, 36 anos, artista visual
Café com trilha de orquestra
O Centro de Cultura Ordovás é um lugar muito especial para mim. Lá tomei muitos cafés ouvindo os ensaios da Orquestra Municipal de Sopros e tive o prazer de me conectar com pessoas muito especias que vivem as artes em suas diversas formas.
Ana Luiza Aver, 36 anos, analista de Recursos Humanos
Programa de família
Frequentamos o Centro de Cultura Ordovás desde a sua inauguração. Levávamos as nossas filhas ainda pequenas, que amavam as exposições de arte e o café do Gê, que elas conheciam ainda do bar da escola. Aos domingos é nosso programa obrigatório ir ao cinema, onde já vimos filmes excepcionais. É o lugar para encontrarmos amigos e conhecidos que não víamos há algum tempo, sempre interessados em cultura. Até a minha mãe, chegando aos 90 anos, frequenta o Ordovás, principalmente quando alguma comédia francesa está em cartaz. Desejamos longa vida a esse empreendimento, que trago no coração, principalmente por ter sido aluna do querido Dr. Ordovás, professor no meu curso de medicina. Parabéns e que fique cada vez melhor!
Maristela Deon, 60 anos, dermatologista