Pensar na vida como uma grande brincadeira, mas fazer tudo de forma planejada para desfrutar dessa proposta é uma das facetas da mineira Mara Couto. Dessa forma, ela intercala seu cotidiano entre um consultório onde exerce a odontopediatria e, literalmente, uma grande casa de bonecas instalada na Rua Dal Canale, em Caxias do Sul. Neste ambiente quase idílico, ela abriga dezenas de bonecas de pano vestidas com uma diversidade ímpar de roupas, cores, tamanhos e penteados.
O lugar se chama Casa de Bonecas Feitiços de Pano e é a concretização de um jeito próprio dela pensar e falar sobre o mundo. Sim, Mara é quase tão falante como a imortal boneca Emília, de Monteiro Lobato. Só que mergulha em outro mundo na hora de virar personagem de sua própria história. Nas aparições públicas, se transforma em uma boneca à modas anos 1950, uma pin up. Tem uma coleção de vestidos e outras peças que remetem àquela época. Trata-se de um gosto pessoal, uma espécie de manifestação estética.
– Sempre amei objetos e coisas antigas, do vintage. Por isso, programo meus looks pensando nesse universo. Gosto disso mesmo. Minhas aparições nas feiras e festas são sempre um acontecimento – diverte-se a designer.
Como boa leonina, claro, ela conta que sempre centraliza as atenções por onde passa. A história da Feitiços de Pano começou há 21 anos, quando se mudou de Belo Horizonte para Gramado. Na cidade em que tudo é um chamariz para os olhos, começou a trabalhar artesanalmente, optando pelo "feito à mão", tão em voga atualmente.
Vivendo em Caxias do Sul desde 2013, Mara seguiu intercalando a agenda entre o consultório dentário atendendo crianças e a sua casa de bonecas. O projeto ganhou novas frentes com a edição de revistas e livros. Neles, ensina o passo a passo de criação de bonecas, moldes de roupas e todos os detalhes para que cada pessoa possa fazer a sua peça por conta própria. Já editou três revistas e dois livros com orientação editorial da jornalista Simoni Schiavo. E planeja novidades, desta vez, pensando no público infantil e um livro de Natal. Aliás, é na infância que ela busca referências para essa inquietação criativa.
A pequena Mara, que é natural de Teresina, no Piauí, mas foi criada em Minas Gerais, por isso a condição e o sotaque marcado, adorava trocar as roupinhas da boneca Suzi que possuía. Mas como a mãe Ivanise, hoje com 80 anos, era costureira, a inspiração e desejo de inventar mais roupas não cessava. Brincou muito com aquelas bonequinhas de papel que tinham roupas diferentes para vestir. E segue brincando até hoje.
– Eu nunca queria parar de brincar de boneca e acho que sigo brincando. Minhas bonecas são para as crianças que existem dentro dos adultos – acredita ela, confiante no estilo e na trajetória inovadora que tem construído nesse segmento.
– Na vida a gente tem sempre que abrir caminhos, ir atrás de novas energias. Não é à toa que na entrada de sua Casa de Boneca Feitiços de Pano – lugar decorado com móveis de brechó, que serve também de casa de chá para encontros intimistas – uma placa pergunta: "Qual é o seu sonho?"”. Sonhar e dar forma a cada uma dessas ideias é o que move Mara: – Sou uma pessoa que vive de sonhos. Sou uma boneca de verdade com a minha essência. Acho que vivo num mundo que não é muito real. Acredito que tudo vai dar certo com as boas energias. Sou positiva, sou meio feiticeira. E o meu feitiço é ser feliz.