Há cinco meses no governo, a secretária estadual da Cultura Beatriz Araujo aproveitou o 3º Congresso Estadual da Cultura, realizado entre os dias 15 e 17, em Bento Gonçalves, para antecipar iniciativas da pasta e dar esperança aos que não viam mais a luz no fim do túnel.
Beatriz é gestora cultural por excelência e de carteirinha, desde os retumbantes festivais de teatro, que organizava em Pelotas, na saudosa década de 1980. Participou ainda, do 1º Congresso Estadual de Cultura, realizado em Porto Alegre, em 1988.
Anos mais tarde, em 2007, em um incidente da cena cultural de Pelotas, fez com que o caminho de Beatriz convergisse com o de Eduardo Leite. Na época, Leite era vereador da base governista e Beatriz era a presidente do Conselho de Cultura.
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— Na época, o prefeito (Adolfo Antônio Fetter Júnior) não quis fazer a Conferência Municipal de Cultura, então fui na Câmara de Vereadores, para protestar. O Eduardo buscou conciliar a situação, mas o prefeito não quis. Então o Eduardo fez a conferência na Câmara e até presidiu o encontro — revela.
Beatriz é conhecida pelo mercado da economia criativa e também dos artistas, e foi através de parcerias com todos os setores da cadeia produtiva que construiu a sua história. Para confirmar isso, Beatriz procurou a iniciativa privada para criar o Prêmio Movimento, que vai distribuir R$ 200 mil para artistas inscreverem seus projetos até mesmo de forma oral, pois destina-se a um público que não tem sido atendido por editais.
Confira a seguir a entrevista que a secretária concedeu ao Pioneiro, durante o Congresso Estadual de Cultura.
Pioneiro: Qual tem sido o maior desafio que a senhora encontra no cargo?
Beatriz Araujo: O maior desafio é fazer com que a Cultura tenha protagonismo no Rio Grande do Sul. Que seja um momento em que possamos reverter essa onda de pessoas que são jovens empreendedores e jovens artistas que acabam saindo do estado para encontrar em outros lugares, até em outros países, um ambiente favorável para que possam desenvolver suas atividades. E reverter a ponto de fazer com que esses jovens queiram permanecer no Rio Grande do Sul por ser um estado que empreende e aposta nessa gente.
Pioneiro: Ganha força uma expressão que tem sido muito utilizada pela senhora, que é a economia criativa. Qual é a mudança de paradigma que o seu governo pretende?
Beatriz Araujo: Todo o trabalho que vamos fazer está voltado para a economia criativa. Tanto que nós criamos um departamento dentro da secretaria para lidar com isso. Estamos implementando o Criativa Bureau, na Casa de Cultura Mário Quintana, a partir de junho, que vai atender 20 empresas e também capacitar em torno de 500 pessoas, em um período de seis meses, atendendo também por consultoria os Pontos de Cultura. Conseguimos resgatar um convênio de 2012, pois o estado não oferecia a sua contrapartida aos Pontos de Cultura. Em suma, vamos investir nas pessoas.
Pioneiro: Estimula-se a economia através de parcerias, mas é possível trazer a iniciativa privada para investir diretamente em ações culturais, além da renúncia fiscal?
Beatriz Araujo: Eu já tenho mantido algumas reuniões com equipes, e empresas que são especialistas na atuação da iniciativa privada e do terceiro setor. Não podemos trabalhar isoladamente, precisamos trabalhar em parcerias de todas as ordens. Esse é um dos motivos que eu recebi o convite do governador Eduardo Leite para trabalhar, porque ele sabe que em toda a minha trajetória profissional eu não fiz outra coisa que não fosse juntar as pontas, viabilizar ações, e interagindo com poder público, terceiro setor e iniciativa privada.
Pioneiro: Qual a importância das associações de amigos, que têm viabilizado muitas ações dos espaços públicos?
Beatriz Araujo: Aquelas instituições que têm associações de amigos bem atuantes, que é por assim dizer, uma autêntica representação da sociedade civil, estão funcionando muito bem. Como exemplo, temos o Museu de Artes do Rio Grande do Sul e a Casa de Cultura Mário Quintana, onde percebemos que a presença da comunidade é importante para a manutenção dos equipamentos públicos. Agora, a comunidade vai atender ao chamado para participar desde que ela seja ouvida e respeitada.
Pioneiro: Pelo que a senhora viu durante o Congresso de Cultura há dissonância na avaliação da sua secretaria e da realidade que os produtores e artistas apresentaram?
Beatriz Araujo: Não tem nada de novo para mim. Inclusive, muitas das sugestões propostas aqui, já são ações que estamos em planejamento na secretaria.
Pioneiro: Como foi a sua participação no 1º Congresso de Cultura, realizado em 1988, em Porto Alegre?
Beatriz Araujo: Foi uma escola para mim. Eu fazia em Pelotas, na época, o Festival Internacional de Teatro sem nenhuma participação das forças vivas da cidade e eu tinha um monte de artistas voluntários e fazíamos um lindo festival. Mas o então diretor de Cultura do Estado, Carlos Jorge Appel, me disse: "Se tu não envolver as forças vivas da cidade o festival vai acabar". E acabou mesmo.
Pioneiro: Ou seja, sem parcerias não há continuidade de projetos...
Beatriz Araujo: Exatamente. Aprendi muito com o Appel. Ele me levava para reuniões da comissão organizadora do Festival de Teatro de Canela, com várias entidades, e ele me dizia: "Está vendo como se faz?". Eu consegui daquele período em diante de toda a minha trajetória, percebendo como é que as ações se tornavam perenes. Era justamente quando a gente conseguia envolver todas as partes.
Pioneiro: De que forma seu trabalho é facilitado porque o governador entende que cultura é parte fundamental da economia do estado?
Beatriz Araujo: Isso, sem exagero, é 50% do caminho. Porque eu não preciso convencê-lo de nada, ele já está convencido. Ele aprecia arte, ele acredita na cultura, também como economia e em todas as reuniões de secretariado, ele cita a cultura. Por exemplo, estamos fazendo acordo com a Unesco e ele escolheu três secretarias, entre elas a Cultura para fazer projeto piloto de cooperação internacional.
Pioneiro: Um tema delicado em se tratando de governo são as indicações políticas aos cargos, como a senhora vê isso?
Beatriz Araujo: Em 2012, o Eduardo foi até a minha casa e me convidou para ser secretária de Cultura, em Pelotas. Eu disse a ele que tinha ficado super lisonjeada, mas não poderia aceitar, porque eu teria de impor uma condição. Antes dele sair, quis saber que condição era essa. E disse que aceitaria o cargo desde que eu não aceitasse indicação política. E ele apertou minha mão na hora. Então quando ele me convidou agora, para a Secretaria de Estado, nem precisou dessa conversa. Eu não tenho de ser artista, não sou especialista. Sou gestora a vida toda, e trabalho como gestora de arte a vida toda. Eu sei que tenho pessoas na Sedac, que trabalharam com gente dos governo do PT, do MDB. Pra mim não interessa de onde vêm, interessa é ver a máquina andar, ver as coisas acontecerem.
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