O ano de 2018 não foi dos melhores para o cinema, talvez um dos piores dos últimos tempos, mas definir lista de destaques é sempre uma tarefa ingrata, questionável e debatível. Ainda mais se boa parte de trabalhos elogiados em outros lugares do mundo ainda não foram lançados no País. Ainda assim, confira abaixo, a relação de alguns filmes que marcaram positivamente o ano:
10 - Infiltrado na Klan
Spike Lee volta à velha forma em seu mais recente trabalho com a história de Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, que na década de 1970 conseguiu (como evidencia o título) infiltrar-se na Ku Klux Klan e ter contato direto com o chefe da "organização". As críticas sociais são claras, provocativas, mas inseridas naturalmente na narrativa. Peca um pouco nos seus 20 minutos finais, porém, um prólogo apresentando casos reais e recentes de racismo atingem o espectador com uma mensagem de alerta necessária. Já lançado no Brasil.
Direção: Spike Lee.
9 - Culpa (Den skyldige)
Culpa se passa numa central de chamadas da polícia. Na história, descobrimos que o protagonista, Asger, foi posto de "castigo" no trabalho de mesa em decorrência de um fato controverso em que esteve envolvido durante sua atuação como patrulheiro. Na função que exerce a desgosto, no entanto, ele acaba recebendo a ligação de uma mulher que informa estar prestes a ser assassinada pelo marido. A partir daquele momento, Asger se dedica a salvá-la, enquanto reflete sobre a própria conduta que o deixou naquela condição. Filme dinamarquês econômico em termos de recursos, quase no formato "teatro filmado", mas que aborda questões morais pertinentes, com uma direção envolvente e uma atuação solitária, mas convicta de Jakob Cedergren. Estreia em janeiro na Sala de Cinema Ulysses Geremia.
Direção: Gustav Möller.
8 - Sem rastros (Leave No Trace)
Debra Granik dirigiu Inverno da Alma em 2011. Depois disso, ela praticamente sumiu da produção cinematográfica, o que aumentou as expectativas para o seu mais recente filme, Sem Rastros. A grande surpresa é que a sobriedade que denotava no longa de estreia de Granik, ressurge aqui, em uma abordagem ainda mais madura. Na história, Will (Ben Foster) e sua filha Tom (Thomasin McKenzie) vivem como eremitas numa floresta próxima da zona urbana de Portland. Quando o governo descobre o modo de vida dos dois, decide tentar reintegrá-los à sociedade, processo que acaba não sendo necessariamente assimilado por eles. No drama, a alma está nas sutilezas e o final singelo reitera um bonito e sensível trabalho de construção de personagens. Já lançado no Brasil.
Direção: Debra Granik.
7 - A Casa Que Jack Construiu (The House That Jack Built)
Lars Von Trier é um cineasta polêmico, o que sempre foi compreensivo em razão do teor provocativo de todas as suas obras. Acontece que nos últimos anos, seus filmes tornaram-se mais divergentes e manifestações em público do cineasta repercutiram de forma negativa. A Casa Que Jack Construiu é basicamente um ensaio do próprio diretor acerca de sua obra e uma (mais ou menos) auto-justificativa de toda violência brutal que o espectador se depara em quase 2h30min de duração. Ame ou odeie, é um legítimo filme de Lars Von Trier, um dos únicos diretores da atualidade a ainda conseguir ser marcante, para o mal ou para o bem. Já lançado no Brasil.
Direção: Lars Von Trier.
6 - Ilha dos Cachorros (Isle of Dogs)
Trata-se do melhor filme de Wes Anderson desde O Fantástico Senhor Raposo. Aliás, o diretor utiliza da mesma técnica em stop-motion para conceber a animação, que pode parecer fofa (e é), mas conduzida com um tom sóbrio, triste e adulto. Na história, Atari Kobayashi é um garoto japonês de 12 anos que não aceita se separar do seu cachorro Spots, após o prefeito da cidade onde mora instaurar uma lei onde todos os cachorros são remanejados para um ilha cheia de lixo. O menino então sai à procura de seu amigo. Já lançado no Brasil.
Direção: Wes Anderson.
6 - Tully
11 anos após lançar Juno, o diretor Jason Reitman faz praticamente uma versão extremo oposta, mas tão carismática quanto seu filme mais cultuado. Na história, Marlo (Charlize Theron) é uma mulher próxima da meia-idade que, cansada da vida doméstica, decide contratar uma babá noturna e acaba estabelecendo laços fortes com a jovem Tully. Já lançado no Brasil.
Direção: Jason Reitman.
5 - A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs)
Assistir uma obra dos irmãos Joel e Ethan Coen é sempre um deleite para quem aprecia a narrativa cinematográfica. Aqui não é diferente, embora o formato o seja: desta vez, os cineastas dividiram um longa em seis pequenos curtas, sem relação direta. O filme começa como um livro de crônicas / histórias do velho oeste e faz jus a esse tom. Porém, cada episódio tem seu brilho próprio (alguns menos do que outros). Disponível na Netflix.
Direção: Joel e Ethan Coen.
4 - No Coração da Escuridão (First Reformed)
O cineasta Paul Schrader nunca emplacou sua carreira como diretor. Já como roteirista, ele foi autor de obras essenciais do cinema em parceria com Martin Scorsese, com Taxi Driver, Touro Indomável e A Última Tentação de Cristo. Mas é em No Coração da Escuridão que Schrader converge as duas funções em seu auge e alcança um resultado irretocável. Trata-se de seu melhor roteiro e do seu melhor filme como diretor. Já lançado no Brasil.
Direção: Paul Schrader.
3 - O Outro Lado do Vento (The Other Side of the Wind)
Orson Welles, morto há mais de 30 anos, precisou ser resgatado para salvar o cinema. O cineasta, pertencente ao panteão de grandes da história, havia deixado, lá no início da década de 1970, um filme inacabado. Foram necessários quase 40 anos anos para amigos, fãs e admiradores assumirem a responsabilidade de concluir o trabalho de Welles. O resultado é quase que um encontro de Cidadão Kane e Verdades e Mentiras (duas das principais obras dele). Complexo, arrastado e tecnicamente capenga em certos momentos, é, ainda assim, uma obra-prima inquestionável. A ironia final é relacionar o fim do filme com a forma que ele foi lançado (via streaming, pela Netflix). Disponível na Netflix.
Direção: Orson Welles.
2 - Hereditário (Hereditary)
Filmes de terror de qualidade são escassos hoje em dia. Demasiadamente cerebrais e sóbrios ou saudosistas, a maioria acaba sendo esquecido horas depois de assistidos. Não é o caso de Hereditário, obra encorpada como um dos grandes e velhos filmes de terror de envergadura (me vem à mente O Exorcista). É um filme de estreia marcante, de arrancar suspiros, sustos e choque. Tecnicamente surpreendente e narrativamente denso. Causou até risos em algumas salas, talvez porque o público desaprendeu a apreciar um bom terror depois de tantos péssimos filmes nos últimos anos. Já lançado no Brasil.
Direção: Ari Aster.
1 - Thunder Road
Um filme pequeno, feito com cerca de US$ 200 mil, com ajuda de amigos e doadores. Atuado, escrito e dirigido por uma mesma pessoa (Jim Cummings) é um respiro no cinema que transpira cinema. Um filme de poucos recursos ou firulas, mas que causa comoção e simpatia ao abordar de forma singela um período conturbado da vida do policial Jim Arnaud. O filme começa no velório da sua mãe e segue por uma série de infortúnios, que relevam sua personalidade bondosa, frágil e sua condição psicológica instável. Exibido em festivais. Ainda sem previsão de estreia no Brasil.
Direção: Jim Cummings.
Os seguintes filmes foram devidamente assistidos e convictamente desconsiderados na lista: Vingadores: Guerra Infinita, Roma, Pantera Negra, Nasce uma estrela, O Primeiro Homem, Viúvas.