Eu sempre gostei muito de contos de fadas, fábulas e histórias da carochinha. Essas histórias infantis em que as personagens não são tão complexas e servem muito bem para que crianças (e adultos) se identifiquem e identifiquem estereótipos, para que se confortem e confrontem medos e tabus.
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Dessas historinhas, acho que a minha favorita é uma das contemporâneas. Se chama O conto do self made man. É a história de um homem com muitos sonhos e projetos, um homem empreendedor, que embarca numa jornada solitária rumo ao sucesso e que única e exclusivamente por conta de seu esforço e nada mais, triunfa. É claro que ele enfrenta muitos problemas e, em determinado momento, nós, leitores, somos forçados a acreditar que ele não vai conseguir, mas com esforço e merecimento, tudo dá certo. Essa história ganha credibilidade, porque é sempre contada em terceira pessoa. Ou seja, o protagonista é sempre observado, é um exemplo, aliás.
Basicamente, a história fala sobre como obter sucesso na vida é algo que está intimamente ligado com você mesmo e não com o ambiente a sua volta.
Essa ideia, fruto de um pensamento norte americano ficou bem enraizada na nossa cultura e chamar alguém de self made man virou um elogio. E é evidente que seja um elogio, afinal se a pessoa saiu "do nada" e virou alguém na vida, ela tem que ser celebrada.
Só que existem muitos nadas. Muitos níveis de nada. Muitos pontos de partida diferentes, porque não é preciso ser um gênio para ver a desigualdade berrante do mundo. E também há muitos tipos de alguém. Cada pessoa é uma pessoa. E por cima disso aí tudo, ainda tem uma questão, que talvez seja aquela moral da história que é mais profunda, na qual é preciso de um auxílio para chegar: ninguém se faz sozinho.
Aliás, sozinho, você é nada.
Um ser humano que precisa ser nutrido, precisa ser ensinado, precisa aprender a falar e pensar. Sobre esses ensinamentos precisa ter dúvidas, dessas dúvidas precisa obter respostas. Um ser humano precisa de abrigo e calor e conversa, precisa de arte e de algum tipo de trabalho, precisa de amigos, precisa falar e comer a comida que foi plantada por alguém e dormir, com sorte, numa casa feita por alguém, com tijolos feitos por alguém, precisa amar e com mais sorte ser amado. Exemplos brutos e curtos, que cabem aqui nessas linhas.
Agora pense que nem todo mundo tem a casa, nem o trabalho, nem o alimento, nem o amor. Vá retirando tudo o que você tem e recalculando a rota para seu sucesso. Cada um vai ter um entorno diferente e às vezes não importa muito o quanto se quer alguma coisa, importa mais se há condições para que se possa ter.
Nesse sentido, prefiro muito mais o conto da empatia, da solidariedade, da divisão, mas essa é outra história.
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