Ele não. Ele nunca. Ele jamais. É um desejo desesperado e legítimo, um desejo que se vincula à minha existência e a existência dos que amo, dos que estão comigo. Este texto não é para os que me odeiam, não e para os que vestidos com os trapos da raiva saem a bater-se pelas ruas, pelas estradas, não é para os que saem a espanar seu ódio, levantando a poeira que cega.
Este texto é para os que têm alguma compaixão, para os que têm o mínimo de decência, para os meus conhecidos, ex-alunos, amigos distantes, familiares e conhecidos. Este texto é para aqueles com os quais já convivi e para aqueles com os quais já compartilhei pensamentos, conversas, intimidade, vulnerabilidades e afeto. É para vocês que eu escrevo. Escrevo pra dizer que sei quem são, que sei que vão votar em alguém que me odeia, que despreza minha existência, que deseja minha morte. Saibam que a escolha de vocês não é pela ordem e pelo desejo de salvação, pela ideia de um alguém que pode consertar o país. A escolha de vocês carrega a minha morte, o meu extermínio junto com muitos outros, simbólico e real.
Porque eu sou mulher, sou lésbica, tenho algo de sangue imigrante e algo de sangue indígena, porque sou professora e artista, e tenho uma irmã que foi prounista e hoje é pesquisadora, um irmão monge hare krisna, tenho esposa, tenho amigos e amigas negras, e gente que vem da roça, do campo e que da terra depende, tenho, na minha vida, pessoas que não pensam em produzir apenas, em consumir apenas, tenho gente na minha vida que ainda acha que vale a pena pensar nas coisas abstratas, trabalhar com o desejo e todas as coisas que vêm antes da concretude, tudo que é humano e nos comove e move para além do que é matéria.
Por tudo isso que a gente compartilha e por tudo em que a gente difere, eu digo, não desejo nunca a aniquilação de ninguém. Mas saiba que se você escolher alguém que prega o ódio, que é abertamente racista, machista, xenófobo, misógino e simplista a ponto de pensar que as coisas se resolvem pensando só daqui pra frente, com violência, então você com este voto, autoriza e concorda com a minha morte.
Quando uma página com 2 milhões de mulheres é hackeada, quando suas moderadoras são excluídas, e expostas, perseguidas, quando a página é deletada, a mensagem da violência e do silenciamento antidemocrático fica bem clara. É doente, é vil. Não quero nunca essa realidade. Por isso ele não. Ele nunca. Ele jamais.