Daqui a pouco é sete de setembro e o país comemora sua independência. Desfiles cívico-militares se estenderão por largas avenidas. Avenidas, talvez, feitas com o intuito de que carros e tanques pudesses ali desfilar, seguidos de uniformizados patriotas, marchando ao som do hino. Mesmo hino que foi a trilha de expulsão dos Venezuelanos lá na fronteira.
Leia mais:
Natalia Borges Polesso: visibilidade lésbica - parte IV
Natalia Borges Polesso: visibilidade lésbica - parte III
Dom João, corrido de Portugal por Napoleão, chega aqui escoltado por navios ingleses, sem hino algum, e com uma dívida. “Eu ajudar você a chegar lá e você fazer negócios comigo”, teria dito o agente inglês, e assim nossa dívida e nossos negócios já começaram com sotaque enrolado.
Dom João chegou criou ministérios, tribunais, um museu e o banco do Brasil para recolher impostos e mais impostos, altíssimos. Tinha que pagar sua carona, afinal, as novas instituições e manter o nível de vida, ora pois. Anos mais tarde foram embora e deixaram que Dom Pedro se virasse com a fome e com a falta de autonomia. Dom Pedro, Partido Brasileiro e cambada toda, no dia do fico, ficaram. Depois, no sete de setembro, gritou as margens do riacho Ipiranga: Independência ou morte, meses mais tarde, foi aclamado imperador.
Pronto o Brasil que estava ameaçado a ser colônia novamente, agora estava declarado império.
Pausa. Risos. Pausa. Choro.
O Brasil dos homens brancos. Aparentemente sempre foi assim. Homens brancos descolados da realidade tomando decisões e contando a história de como teria sido.
O tempo passa. As máscaras dos vilões mudam, as dos heróis também. Continuam nos contando histórias com números assustadores e soluções que contabilizam as mazelas de uma gente sem rosto: o povo, essa entidade única, essa massa amorfa e sem identidade. O povo quer. O povo teme. O povo chora. O povo não sabe votar. O povo que mal aparece nas histórias dos homens poderosos que definitivamente não são o povo. Porque este está longe, nos confins do Brasil, parece. E desses confins berra suas histórias múltiplas.
Brasil vil, infame, que degrada sua gente. Brasil que desrespeita acordos, que desrespeita a vontade soberana do povo, que é nada, parece.
Brasil vil, que queima sua memória num planejado descaso.
Brasil vil, de críticos e estatísticos, homens que dizem “é preciso fazer crescer o bolo! É preciso produzir mais! O povo precisa produzir riqueza! É pra isso que o povo serve! Vamos gerar mais empregos, quer dizer, agora mais trabalho, não reclame, trabalhe! Seja empreendedor!” E os bancos transbordam o bolo da forma, vai uma fatia generosa aos peixes grandes, depois, seis pessoas comem do bolo, comem e jogam fora as migalhas, que nós nos matamos para prova