Devemos saber que as esperanças são coisas violentas. Nos tomam, nos tombam, podem até nos quebrar, porque quando estão dentro de nós, seus impulsos são incontroláveis. Devemos saber que as esperanças, quando contrariadas tendem à agressividade. Fazem arder tudo o que não convêm a elas. Devemos saber que as esperanças estão por aí soltas, e que precisamos buscá-las, porque elas definitivamente não se incomodam em nos encontrar. Não sou que digo isso, é Julio Cortázar. É isso que se pode constatar sobre as esperanças, segundo o escritor argentino.
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As esperanças, porém, apesar de violentas e irritadas, são um tanto sedentárias e só se deixam viajar pelas ideias e pelas pessoas. Não havendo meio, as esperanças padecem. Dizem até que se não enxergarmos as esperanças, se não as agarrarmos, elas morrem.
Agora, para capturar uma esperança é preciso tempo. Não quero dizer muito tempo. Nem pouco tempo. Mas o tempo certo. O tempo da paciência e do ímpeto, do grito e do silêncio, assim, do mesmo modo, na mesma medida. E, principalmente, a astúcia que nos faz lançar mão de cada uma dessas qualidades e ações, no momento certeiro.
Não sei exatamente desde quando, ao meu lado, mora uma esperança. Ela sabe que eu a vejo, mas ainda não posso tomá-la. Ela se desintegraria. Por enquanto deixo-a aqui. É confortável a sua presença. Ela também me olha e me reconhece como meio, sabe que poderá se propagar através da minha voz, do meu afeto, das minhas mãos e das minhas armas. Contudo, ainda não me autoriza proximidades. Está pálida, machucada. Preciso esperar. Ela sabe que ninguém gosta de frustrações. Vai me conceder a graça quando for o tempo, quando algo meu se espelhar nela.
Há esperanças de fato. Olhem ao redor. E se não for suficiente, olhe embaixo da mesa, olhem além do batente da porta. Olhem fora do umbigo, fora das telas, quem sabe. Há esperanças para todos. Pequenas, talvez. Ou esplendorosas. Observem. Tenho certeza que encontrarão. A minha está aqui, magra e ferida. Mas não vou deixá-la partir.
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