No fim de semana, começamos as atividades da Transitória Mostra e também do 8º Caxias em Movimento. Sábado, fim da tarde, estivemos envolvidas na dimensão sonora de Camila Alexandrini e Adriana PK e foi tão bonito perceber que uma relação nova com o espaço havia se estabelecido. A Escrita de Contato, trabalho que apresentaram, transformava o ato da escrita, o atrito do lápis contra o papel, em sons que fizeram surgir uma extensão daquela escrita ao nosso redor. No Domingo, o TME foi o local das trocas e dos afetos. Telma Scherer apresentou O sono de Cronos na minha barriga, para que pudéssemos refletir sobre o papel da poesia em sua origem de criação. Outras ações e apresentações acontecerem: Take a Picture with a Brazilian girl for 0,71 cents e We don’t have Money but we’re are funny, ambas de Marina Pimentel, questionavam os clichês do Brasil sob a visão dos estrangeiros. Paula Giusto e Ander Belotto apresentaram Satisfação do cliente, cenas que me fizeram pensar muito sobre a mercantilização, sobre o fazer artístico na era do on demand, digamos assim.
A todo o momento eu pensava: estamos criando uma camada humana na cidade, uma camada pensante. E eu sei que há pessoas em Caxias que se esforçam para manter viva essa dimensão da cidade sempre. Não foram apenas palavras e reflexões, estivemos propondo, criando e mantendo modos alternativos de estar e pensar no mundo.
Mas, queria falar um pouco sobre Fim, performance do bailarino Igor Medina, que propunha questionar a impossibilidade de existência plena de um corpo rebelde hoje no mundo. Um desconforto brotou na cidade e a reação não foi boa. Me pergunto: o questionamento foi exitoso? Se, por nos colocar em conflito direto com nossas ignorâncias, e digo nossas, porque falo de nossos corpos na cidade, foi exitoso? De certo modo, a denúncia do corpo estranho, a denúncia do expurgo do corpo estranho, do domínio do corpo estranho, funcionou. Por isso, nós é que falhamos como sociedade.
Precisamos refletir imensamente sobre como nos propomos a lidar com os corpos rebeldes? Com aqueles que não se submetem a um padrão arbitrário de conduta. Como é, e como podemos entender esse estar múltiplo na cidade? Porque ele existe. Existe na estratificação social, existe nos corpos das mulheres permanentemente amedrontadas, existe em quem está com a consciência em outro lugar, nos imigrantes, nos gays, nas lésbicas, nos e nas trans, nos artistas, nos velhos, nas crianças. Somos múltiplos.
Mas a ação é: o que nos incomoda deve ser contido, escondido, preso, invisibilizado? Assim pensamos estar livres do que nos causa algum transtorno. Remediamos, internamos, escamoteamos, largamos em casas de repouso, damos ritalina, etc.
Porém, isso não extingue o corpo. Apenas o torna marginal.
E aqui já somos todos marginais: o Brasil é margem do mundo, o Rio Grande do Sul é margem do Brasil, Caxias é margem do Rio Grande do Sul. Acordemos.