Foi ontem o dia. Mas hoje eu calo e penso que não há colunistas negros ou negras aqui no jornal. Hoje eu cedo um espaço que eu não deveria precisar ceder, um espaço que deveria existir, partilhado:
E Ângela Martins diz: Ser mulher negra em Caxias do Sul é uma luta diária, constante. É ter força, coragem é ser guerreira. Somos um exército que vai à luta todos os dias. O racismo é sutil, quando não é explícito. Nos olham como se fôssemos extraterrestre ou saqueadores. Como saqueadores por que ao entrarmos em estabelecimentos públicos e privados somos vigiadas o tempo todo. Extraterrestres porque por nosso jeito de vestir, andar. Por nossos cabelos Black, trançados, chapados e cheios de acessórios. Nos olham estranho por termos boca grande, lábios carnudos e glúteos avantajados. Ser mulher negra em Caxias do Sul é muitas vezes não ter direito a voz, vez, espaço. É ser julgada injustamente e ter que calar, pois a justiça é seletiva e a cor presa. Ser mulher negra em Caxias do Sul é passar em preto o ano todo. É não ter políticas públicas pensadas para nós na área da saúde. É ter que entrar pelos fundos e ficar no final da fila. Ser mulher negra em Caxias do Sul é não ter crédito e credibilidade. A justiça não acredita em nós e as linhas de crédito disponíveis na praça não nos favorecem no caso de pensarmos em nos tornar empreendedoras. Ser mulher negra em Caxias do Sul é ter um grito sufocado na garganta. É rir para não chorar, é levantar a cabeça e seguir em frente. É dizer pras nossas crianças e jovens que eles são lindos e que tem os mesmos "direitos humanos" que seus coleguinhas, amigos. Ser mulher negra em Caxias do Sul é não ter que ter vergonha de botar a cara no sol e sorrir. Afinal o sol nasceu pra todos e nós vamos continuar aqui mesmo com toda opressão todo racismo e toda discriminação da maioria branca.
E Rodrigo de Oliveira Moraes diz ainda que: Ser negro em Caxias do Sul, é não ignorarmos o fato de quem nasce na nossa cidade, esquece ser brasileiro e, pensa ser italiano, trazendo assim mais um desafio aos descentes de guerreiros bantos. (R)existir na Serra Gaúcha, é uma procura constante de provar que esta terra foi construída sim pelos imigrantes europeus, mas houve contribuição essencial dos braços e suores negro e indígena. É saber que vão ouvir suas músicas, usar os seus penteados de cabelos, usar camisetas estampadas com seus heróis, mas vão atravessar a rua ao ver você do mesmo lado da calçada. Como canta Racionais Mc's, "por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor".
Pensemos neste espaço partilhado todos os dias. É responsabilidade de todos nós fazer com que ele exista.