Me pergunto sobre a importância da cultura e sobre importância da literatura. Me pergunto muito. Como exercício de vida. Perguntar é fundamental. A literatura me ensinou a perguntar. E mais, me ensinou a perguntar em silêncio, me ensinou a perguntar dentro de mim. Assim comecei minha fala na abertura da 33ª Feira do Livro de Caxias do Sul – que segue ainda até o dia 15 de outubro, com diversas atrações e uma infinidade de títulos de livros para nosso deleite. Falar sobre literatura para mim, é falar sobre este espaço de compartilhamento, porque quando nos colocamos na posição de leitores, precisamos também nos colocar numa posição silenciosa, de aprendizado do outro. Então, eu disse que lembrava muito da minha avó materna, Dona Neuraci, que não era lá muito silenciosa, mas que me ensinou, com um carinho desajeitado, a ouvir.
Nas minhas noites insones quando criança, ela sentava na cama ao meu lado e me contava causos. Eu ficava toda imersa naquelas histórias de vacas e campos e fugas. Meu primeiro contato com a literatura foi assim, na voz da minha vó, nas histórias que ela mirabolava para me fazer ter sono. Para agradar, eu fingia dormir, mas ficava com aqueles personagens todos na cabeça. Talvez minha vida de escritora tenha começado a ser semeada ali naquelas noites.
Tenho frequentado muito a Feira do Livro e tenho aprendido demais com os convidados, organizadores, trabalhadores outros, livreiros, leitores e leitoras que vou encontrando. Aprendi sobre imagens, palavras, silêncios, conversas, políticas públicas, limpeza, espaços, ocupações, sonhos, medos, pessoas, modos e leitura. A literatura congrega muitas coisas mesmo. Mas queria dizer que o mais especial tem sido o que aprendo com os escritores de livros para a infância. Como é importante oferecer uma literatura imaginativa, ampla, aberta e para os pequenos. Oferecer mesmo, com carinho, com proposta. Mas, além disso, essa literatura não é só para a infância, é para todas as idades.