Ana Rech dá nome a um tradicional bairro de Caxias e está no imaginário de boa parte da população da cidade como uma senhora idosa de saia e manto na cabeça (uma das poucos fotos que existem dela). Mas um conterrâneo italiano de Anna – que na verdade se escreve com dois "n" – resolveu investigar um pouco mais da história da imigrante viúva e com sete filhos que partiu de Pedavena rumo ao Brasil em 1876. A pesquisa do historiador e filósofo Salvatore Liotta resultou no livro A Viagem de Anna Rech, à venda em Caxias na Livraria do Maneco, e também na certeza do protagonismo feminino na história da imigração italiana.
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– Eu não tinha essa consciência da importância da figura da mulher na história das imigrações, e não só da italiana. A Anna, apesar de analfabeta ou sem cultura, criou cultura e gravou seu nome nessa localidade – diz ele, no Brasil pela quinta vez, dessa vez para lançar a edição brasileira da obra, que já está na segunda edição na Itália.
O escritor fala com entusiasmo do papel das mulheres dentro da estrutura das famílias que chegaram por aqui a partir de 1875. Anna fixou residência na região de Caxias em 1877 e, segundo Liotta, enfrentou todos os tipos de dificuldades para sobreviver em terras desconhecidas. Empregou toda energia para cuidar da família – tinha dois filhos com deficiência – e ficou conhecida na comunidade como uma mulher corajosa e caridosa.
– Anna é símbolo de toda imigração italiana pelo valores de convivência e solidariedade, mas sobretudo, é símbolo das mulheres vênetas do século 19. (...). Elas tinham papel primário, não secundário, na gestão das famílias – disse ele, reforçando as palavras do discurso que proferiu em Ana Rech na última sexta, no lançamento do livro.
Liotta começou a interessar-se pela trajetória de Anna Rech com o livro História do Povo de Ana Rech, do padre João Leonir Dallalba. De 2001 para cá, construiu grande intercâmbio cultural com pessoas de Caxias que tinham informações sobre a imigrante, ao mesmo tempo que remontava os detalhes da viagem ao Brasil presentes em documentos italianos. Assim, criou um romance baseado em pesquisa histórica. “O narrador é onisciente, nada lhe escapa, tudo sabe, afunda na mente e na alma de seus personagens, dá-lhe vida. Ele nos conta com envolvimento e sabedoria a história que o livro guarda. O narrador pertence inteirinho à história que narra. Ele é, às vezes, um observador, mas no tempo maior, é onisciente, penetra no fundo da alma de seus personagens, conhece seus pensamentos e sabe o que sentem”, elogia a linguista Vitalina Maria Frosi na apresentação do livro.
A capa de A Viagem de Anna Rech é ilustrada pela filha de Liotta e mostra uma mulher com uma criança na proa:
– As ondas se apresentam como os obstáculos da vida. O livro é uma metáfora para o que eu chamo de viagem da vida.
LIVRO
:: A Viagem de Anna Rech foi editado pela Editora Maneco, tem 211 págs e custa R$ 45.