Um menino não está mais aqui. Nós resistimos. Um menino precisava de ajuda. Nós não sabíamos. E de quantos não sabemos absurdamente nada? Quantos meninos? Matheus, Fábios, Paulos, Pedros, Joãos, Otávios, Felipes, Claras, Anas, Luizas, Alines, Brunas. Quantas meninas também? Caminhamos juntos. Na praça da cidade estivemos resistindo. Um passo para saber mais, um pouco mais sobre o outro. Saber, além das coisas que magoam ou das superficialidades, saber daquilo que alegra, que muda destinos, une as pessoas, evita catástrofes.
Caxias do Sul tem um dos mais altos índices de suicídio do Estado. A cada ano são 42. E 174 tentativas. A maioria é de jovens.
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Um menino era gay, eu sou lésbica, você é trans, bi, hétero, queer, seja lá o que for, você é alguém que precisa saber que um menino morreu, nós precisamos saber. Antes. Sobre. Todos. Os. Meninos. Para que haja sempre um encontro dos que resistem, que existem. Antes. Porque, deste modo, um menino vive sempre. Vive para nos ensinar a ter cuidado e empatia. Um menino resiste na nossa mudança coletiva, mas primeiramente, individual. Um menino resiste na nossa escolha pela vida. Um menino resiste em nossos atos diários de compaixão. Um menino resiste no exercício de ouvir o outro. Um menino resiste quando estamos juntos (mais cinco milhões de mulheres resistem em marcha pelos Estados Unidos, resistem juntas). Um menino resiste quando não há sofrimento. Um menino resiste quando é ouvido.
A Angela Davis disse no discurso dela na Marcha das Mulheres (EUA) que nenhum ser humano é ilegal e que quem estava lá protestando representava uma força poderosa de mudança, disse também que só aquelas pessoas poderiam impedir a opressão. Somos agentes coletivos da história.
Um menino não está mais aqui por uma série de fatores pessoais e sociais. Precisamos saber antes sobre todos os meninos. Ser essa força poderosa de mudança, como naquele dia na praça. Visíveis. Atentos. Em movimento. Presentes.