
Um ano e meio depois do anúncio da mudança da Feira do Livro de Caxias do Sul para a Estação Férrea, em janeiro de 2015, a polêmica teve um desfecho preocupante na tarde desta quinta-feira.
Em reunião a portas fechadas com a secretária municipal da Cultura interina, Gabriela Giovanardi Dozza, uma comissão da Associação dos Livreiros Caxienses (Alca) entregou um documento comunicando que, se a a decisão de levar a Feira do Livro para a Estação Férrea for mantida pela prefeitura, 28 livreiros caxienses não participarão. Eles são responsáveis por cerca de 40 bancas. Na edição 2015, 48 delas ocuparam a Praça Dante Alighieri.
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– Achamos que não é viável a realização da feira na Estação, principalmente pelo impacto de público que teremos, certamente muito menor que na praça. Nosso posicionamento não é motivado por uma questão comercial, mas para preservar o que acreditamos ser o melhor para a continuidade da feira a longo prazo – justificou Cristiano Bartz Gomes, presidente da Alca.
Lisana Bertussi é patrona da Feira do Livro de Caxias
Os livreiros ainda solicitaram o agendamento de uma assembleia para debater o assunto amplamente e com a participação da comunidade. Impactada com a decisão, a Secretaria da Cultura terá de buscar alternativas para suprir a falta das cerca de 40 bancas ligadas à Alca que não integrarão a Feira do Livro 2016.
Entretanto, apesar de afirmar que a solicitação será avaliada internamente, a secretária acredita que a decisão tomada pelo governo ainda no ano passado deve ser mantida.
– A praça não é mais um local adequado para a realização do Festival Entrelinha, com atividades relacionadas com a Feira do Livro. Com o investimento da prefeitura na revitalização da Estação e na criação da Praça das Feiras, a proposta é fazer o evento cada vez maior, com atrações diversificadas e onde as pessoas possam permanecer por mais tempo. Por isso, se realmente tivermos a ausência dos livreiros, sentiremos muito, porque gostaríamos que crescessem junto com o evento. Mas o festival vai acontecer e buscaremos outras alternativas – projeta Gabriela.
Com isso, há a possibilidade de que sejam convidados livreiros vindos de outras cidades para participação na feira.
Em 2015, a troca de lugar da feira foi defendida pela então secretária da Cultura, Rubia Frizzo, como "um local mais seguro e com melhor acessibilidade, estacionamento mais fácil e possibilidade de expansão da área infantil". Na época, boa parte da comunidade cultural posicionou-se contra a decisão.
A Feira do Livro 2016 está prevista para ocorrer de 30 de setembro a 16 de outubro. A professora Lisana Bertussi é a patrona. Ela integra um trio feminino composto ainda por Véra Stedile Zattera, a homenageada de honra, e Karen Basso, a ilustradora homenageada.
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Entenda o caso
Em 2015
5 de janeiro: Rubia Frizzo anuncia ao Pioneiro o desejo de levar a Feira do Livro para a Estação Férrea. Ela projetava o formato da nova feira como semelhante ao do Mississippi Delta Blues Festival.
– Aqui (Estação Férrea) temos a Biblioteca Parque, com espaço adequado e vedação de som, além de uma área longitudinal, para instalar um palco mais afastado. Sem falar no trenzinho, que as crianças adoram – apontou ela, na época.
6 de janeiro: o prefeito Alceu Barbosa Velho repercute a declaração da Secretaria da Cultura e diz que o caso já está "deliberado", apesar da enxurrada de opiniões contrárias, entre elas a da Associação dos Livreiros Caxienses. Na ocasião, o prefeito disse ao Pioneiro que a feira judiava muito da praça Dante Alighieri, danificando canteiros e chafariz. Ele apontou a Estação Férrea como mais adequada devido ao acesso, ao estacionamento e ao amplo espaço (35 mil m²).
– Toda a mudança traz uma reação. Mas é uma mudança para melhor, as pessoas vão entender – disse o prefeito.
Na época, boa parte da comunidade cultural posicionou-se contra a decisão, como o escritor e ex-patrono Paulo Ribeiro:
– O acesso (na Praça) é privilegiado por ônibus, todas as Feiras que dão certo no mundo são nas praças. Por mais bucólica que a Estação seja, não tem boa estrutura geográfica. A Feira na praça chegou no limite, mas vamos expandir para quê?
Já Marcos Kirst, colunista do Pioneiro e também ex-patrono, revelou ser a favor da mudança:
– Dizer que a Praça é tradicional e não deve mudar não serve, porque o mundo muda. Acho também que a Feira deveria integrar a praça de alguma forma, para tornar a transição mais leve.
5 de fevereiro: uma nova reunião acontece entre livreiros e prefeitura. Alceu Barbosa Velho se mostra mais aberto ao diálogo.20 de abril: a comunidade cultural se mobiliza contra a mudança usando, principalmente, as redes sociais. O escritor Paulo Ribeiro cria o evento virtual "A Feira é na Praça", com mais de 2,2 mil adesões. Na época, a coordenadora do Departamento do Livro e da Leitura – que organiza a feira anualmente – afirma que a decisão ainda não estava tomada, mas defende a mudança para a Estação Férrea. Ela apontou como pontos fracos da Dante a necessidade de recolhimento diário do esgoto do Café Cultural e o fato de palco, auditório e Leiturário estarem muito próximos, dificultando a realização de atividades simultâneas.
30 de abril: uma reunião entre representantes da prefeitura e livreiros decide por manter a edição 2015 da Feira da Livro na Praça Dante.
– Iríamos ter menos gastos em infraestrutura. Os livreiros pediram tempo para pensar em um novo cenário, e nós podemos pensar nisso novamente,em outras edições – disse a secretária Rubia Frizzo, na época.
2 de maio: o Pioneiro encerra uma enquete virtual que solicitava a opinião dos leitores a respeito da mudança. A pesquisa ficou no ar entre 19 de abril e 2 de maio, contando com a participação de 613 pessoas: 53,3 % foram a favor da mudança para a Estação Férrea e 46,6% preferiu a Dante. Apesar do resultado, entre os 25 leitores que deixaram suas opiniões registradas com justificativas no mural, apenas três defenderam a mudança.
13 de outubro: na última semana da Feira do Livro 2015, a secretária Rubia Frizzo garante que trata-se da edição derradeira do evento na Praça Dante Alighieri. A prefeitura anuncia a intenção de transferir o encontro para o Largo da Estação em 2016 porque o espaço é considerado mais adequado. Rubia explicou que tratava-se de uma "definição de governo, uma decisão de muitas secretarias".
18 de outubro: uma manifestação contra a mudança para a Estação Férrea marca o último dia da programação da Feira do Livro 2015. Bradando o grito de guerra "feira na praça", dezenas de manifestantes deram as mãos e promoveram um abraço simbólico ao redor do chafariz, circundando o corredor central de bancas. Depois, as pessoas se reuniram em frente ao Leiturário para ouvir alguns representantes da Associação dos Livreiros Caxienses. A ação também resultou numa ata assinada por todos os livreiros na qual eles se negavam a participar da próxima edição da feira, se a mudança para a Estação Férrea se mantivesse.
Que fique claro, os livreiros de Caxias, Porto Alegre e região não vão para outro lugar. Não é possível que a prefeitura não escute quem faz a Feira há 31 anos _ bradou Fernando Berti, da livraria O Colecionador, na ocasião. 2016 4 de janeiro: em entrevista ao Pioneiro, a secretária Rubia Frizzo repercute a polêmica envolvendo a mudança da feira reafirmando a decisão:_ Gosto muito de obra, porque acho que é um legado que a gente deixa. Sei que alguém pode continuar de algo que deixei pronto e fazer melhor. 11 de junho: a prefeitura anuncia a patrona e os homenageados da edição 2016 da feira, a primeira a acontecer na Estação Férrea. Por decisão própria, a Alca não participa da escolha dos nomes, como acontecia tradicionalmente. 23 de junho: uma nova reunião entre representantes do livreiros e Secretaria da Cultura é realizada. A Alca decide não participar da feira 2016.
– Que fique claro, os livreiros de Caxias, Porto Alegre e região não vão para outro lugar. Não é possível que a prefeitura não escute quem faz a Feira há 31 anos – bradou Fernando Berti, da livraria O Colecionador, na ocasião.
Em 2016
4 de janeiro: em entrevista ao Pioneiro, a secretária Rubia Frizzo repercute a polêmica envolvendo a mudança da feira reafirmando a decisão:
– Gosto muito de obra, porque acho que é um legado que a gente deixa. Sei que alguém pode continuar algo que deixei pronto e fazer melhor.
11 de junho: a prefeitura anuncia a patrona e os homenageados da edição 2016 da feira, a primeira a acontecer na Estação Férrea. Por decisão própria, a Alca não participa da escolha dos nomes, como acontecia tradicionalmente.
23 de junho: uma nova reunião entre representantes do livreiros e Secretaria da Cultura é realizada. A Alca decide não participar da feira 2016.