Papéis ao Vento usa a paixão pelo futebol - que na Argentina, país de origem do longa, é tão ou mais arraigada do que aqui - como mote para adentrar em temas bem mais amplos: corrupção, perda, paternidade, amizade, fracasso, etc.
O roteirista Eduardo Sacheri é uma das principais grifes por trás da produção, famoso no mundo inteiro por ter escrito o livro que deu origem ao oscarizado O Segredos dos Seus Olhos. Em Papéis ao Vento, ele não alcança a mesma maestria de seu trabalho mais conhecido, mas acerta ao unificar assuntos muito distintos, como se tudo estivesse mesmo dentro de um único e emocionante jogo de final de campeonato. O filme estreia amanhã na Sala de Cinema Ulysses Geremia.
A trama, dirigida por Juan Taratuto, apresenta seus três protagonistas aos poucos. Fernando é um solitário professor; El Ruso é dono de uma lavagem de carros que passa os dias jogando videogame, e Maurício, um bem-sucedido advogado, porém em crise no casamento. O trio compartilha a paixão pelo clube Independiente (não por acaso também time do coração de Sacheri) e a saudade do amigo El Mono, ex-jogador vitimado por um câncer. A história inicia a partir dessa perda que reúne o trio à beira de muitas lembranças carinhosas do amigo. Mas a herança deixada por Mono também inclui um jogador pereba, de quem ele comprou o passe quando ainda era uma promessa. Agora, Fernando, Ruso e Maurício vão tentar recuperar o dinheiro investido pelo amigo, com a ideia de guardá-lo à pequena filha dele.
A comédia é o tom escolhido pela história, mas não espere gargalhar muito alto. Há realmente bons momentos de fôlego cômico - principalmente quando o adorável perdedor El Ruso está em cena - mas a carga emotiva é mais forte na trama, e isso não é um erro. Buscando badalar o jogador "comprado" por Mono, o trio vai adentrar nos cenários antagônicos do mundo do futebol. Isso inclui o escuro e humilde lar de um técnico fracassado, até o branquíssimo e chique escritório de um empresário do futebol. É interessante como o filme explora essas facetas do esporte sem se tornar repetitivo, inclusive buscando maneiras divertidas para mostrar como funciona a indústria por trás dos holofotes e dos jogadores mega badalados.
É claro que a história promete fazer ainda mais sentido para fãs de futebol e da paixão desenfreada dos argentinos pelo esporte. Porém, muito além disso, Papéis ao Vento é sobre amizade e sobre como passá-la adiante. A pequena filha de Mono pouco aparece no filme, mas é pensando nela que toda a história se desenvolve. No fundo, tudo que se faz é num esforço para que ela sinta orgulho do pai e, claro, se aproxime do esporte que ele e os amigos escolheram para amar.
:: SERVIÇO: Papéis ao Vento fica em cartaz de quinta a domingo, com sessões na quinta e sexta, às 19h30min, e no sábado e domingo, às 20h. Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos). A Sala de Cinema Ulysses Geremia fica na Rua Luiz Antunes, 312. Classificação é de 12 anos e a duração do filme é 98min.
Cinema
Sala Ulysses Geremia estreia o argentino "Papéis ao Vento", em Caxias
Filme fica em cartaz de quinta a domingo
Siliane Vieira
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