Leitor, na adolescência, dos romances policiais baratos vendidos a dez centavos e fã de Sam Spade (detetive particular criado por Dashiell Hammett nos anos 1930 e que apareceu pela primeira vez no livro O Falcão Maltês), o escritor norte-americano William C. Gordon escolheu ambientar seus livros num tempo em que não existissem computadores, celulares, internet ou exames de DNA - só assim seu herói poderia parecer com aqueles que admirava.
>> Confira a programação da feira.
Em bate-papo com o público na noite deste domingo na 29ª Feira do Livro de Caxias do Sul, Gordon contou detalhes de seu processo criativo, e também de sua vida. Afinal, reconhece, toda ficção tem um quê de autobiográfica. No seu caso, o fato de ter passado parte da infância num bairro mexicano o fez dominar o idioma espanhol - no qual conversou, desculpando-se por não falar português - e redundou na publicação de seus livros primeiramente na Espanha.
- Eu sou um contador de histórias, mas muitos dizem que eu mesmo sou uma história - disse, logo no início, antes de recordar as vezes em que corria se esconder numa biblioteca para fugir dos garotos maiores que queriam bater nele.
Foi aí que começou seu "caso de amor" com as bibliotecas e os livros, e sempre soube que seria escritor, embora isso só tenha se concretizado após os 60 anos. Antes disso, treinava contar histórias enquanto exercia a advocacia, contou, além de fazer o que ainda faz muito: observava.
Foi de observações da realidade que vieram muitos de seus personagens, como o chinês albino que viu na rua e julgou "um presente", pois era um personagem perfeito. Aproveitou-o em O Mistério dos Jarros Chineses, seu primeiro livro, e também nos seguintes.
Durante a conversa na Feira, das 19h às 20h, ele também falou de sua relação com a mulher, a escritora chilena Isabel Allende, e arrancou risadas da plateia em vários momentos, como ao contar que, na juventude, durante uma viagem pelo mundo, dormia em cemitérios, pois era barato e ninguém incomodava.
Feira do Livro
Um escritor policial à moda antiga
Norte-americano William C. Gordon conversou com o público neste domingo
Maristela Scheuer Deves
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project