Passava um pouco das 22h de quarta-feira quando o baterista Jerry Porter, o baixista Noel Neal, o guitarrista Tom Holland e o vocalista Darrell Nulisch subiram ao palco do Mississippi Delta Blues Bar, em Caxias.
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Músicos que formam a Superharp Band, que acompanha o lendário James Cotton na turnê pelo Brasil, arrasaram já nas primeiras músicas. Digo sem pensar muito: a performance do quarteto, que tocou três canções antes de Cotton sair do camarim, já teria valido o ingresso. Arrisco-me a dizer que o grupo foi um dos melhores a se apresentar, até hoje, no palco do Mississippi (o bar comemora sete anos de existência).
Mas se o show já estava bom, quando Cotton subiu ao palco, tudo ficou ainda melhor. Elegante em um terno preto e camisa vermelha de cetim, o gaitista logo se sentou e começou a mostrar por que é considerado um expoente do blues. Com uma plateia repleta de músicos, foi possível escutar, entre um cochicho e outro:
- Eu não acredito que o James Cotton está aqui na minha frente. Ele era tudo o que eu pensava, só que muito mais.
Outros, ainda mais incrédulos, também se manifestavam ao final de cada música:
- Como ele fez isso? É incrível.
Sim, James Cotton é incrível. Com a voz combalida por um câncer de garganta, o músico de 78 anos parecia se divertir em cima do palco. Falou pouco, riu muito, agradeceu aos presentes e disse que estava feliz em estar ali, fazendo música. Com um setlist que não deixou ninguém parado, um dos últimos expoentes da geração musical que fez a transição entre o blues rural do Mississippi e o blues eletrificado de Chicago mostrou um leque de músicas da carreira. E sucessos não faltaram no show desse cara que já se apresentou ao lado de nomes como Muddy Waters e Howlin' Wolf.
Cotton tocou mais de 10 músicas sem parar e só deixou a gaita de lado para se emocionar com uma homenagem dos proprietários do Mississippi. Ele fez aniversário no dia 1º de julho e, por isso, ganhou uma torta e um 'Parabéns a Você" cantado pelo público, metade em inglês, metade em português. Depois disso - e de mais de 1h20min de show -, o músico deixou o palco e voltou ao camarim.
A plateia, em coro, pediu para que Cotton voltasse. Ele demorou, deu a entender que não voltaria, mas voltou. Cantou mais uma para delírio dos presentes, que se esqueceram do frio que fazia em Caxias e se esquentaram com boa música.
O Mississippi não estava lotado na noite de quarta-feira, mas deveria ter ficado. O show que James Cotton e a Superharp Band fizeram é daqueles que não serão esquecidos. É daqueles que serão sempre lembrados com emoção e com uma certeza: James Cotton, esse sim, é uma lenda.
Música
Em show na noite de quarta, em Caxias, James Cotton mostra por que é considerado uma lenda do blues
Gaitista americano se apresentou no palco do Mississippi Delta Blues Bar
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