Qualquer pessoa que escutou rádio FM em algum momento de 1982 para cá, ou assistiu novelas da Globo prestando atenção na trilha, saberia cantar pelo menos parte do repertório de Toca Lulu, show que o cantor Lulu Santos apresentou em Caxias na noite fria (e pós protestos) de sexta. Em pouco mais de 1h30min em cima do palco, o desfile de hits foi tão grande que deu para relacionar o nome do espetáculo com aquela cara de aflição que os músicos de barzinho fazem quando alguém solicita: "toca aquela do Lulu". Poxa, eles devem ficar se perguntando "Meus Deus, qual delas?", tamanha é a lista de sucessos.
Passava um pouco das 23h30min quando o carioca subiu ao palco dos Pavilhões da Festa da Uva. Exibindo um terno impecável azul marinho, com camisa roxa e gravata rosa que combinava com as meias e os cadarços da mesma cor, ele mandou ver logo de cara Toda Forma de Amor. Depois veio Um Certo Alguém e O Último Romântico. Não precisa dizer que o público, cerca de 2,5 mil pessoas de acordo com a organização do show, cantou tudo em coro.
Mas a apresentação de Lulu foi bem mais longe do que somente traduzir o que é o pop. Acompanhado pela potência de seis instrumentos principais (baixo, bateria, percussão, sax e dois teclados) e desfilando vários modelos e sonoridades diferentes de guitarra, ele conduziu um passeio por ritmos brasileiros. Antes de Tudo Azul, por exemplo, a banda trouxe bumbo, triângulo nordestino e uma batida um tanto maracatu. Num solo psicodélico, Lulu puxou acordes do clássico Asa Branca e mesclou versos de Gilberto Gil (De Onde Vem o Baião).
Depois, em Sábado à Noite, a percussão parecia se entregar ao ritmo do funk carioca, mas Lulu colocou um chapéu e surgiu com apito na boca: virou roda de samba. Também teve uma super suingada SOS Solidão e rock com a versão de Minha Fama de Mau (de Erasmo Carlos). Antes de puxar esse clássico da Jovem Guarda, o músico ironizou:
- Agora um ritmo que foi muito popular na segunda metade do século 20, chamado rock and roll.
Na lista das canções onde houve coro mais forte da plateia figuram A Cura (com todo mundo gritando "iê, iê, nanananana"), Casa, ainda o bloquinho praiano composto por Sereia, De Repente Califórnia e Como Uma Onda, e claro, Assim Caminha a Humanidade (abertura da Malhação!) e Tempos Modernos (opa, abertura da Malhação de novo). Ah, também rolou uma versão super bonitinha de Como é Grande Meu Amor por Você (que com Minha Fama de Mau e outras canções da dupla Roberto e Erasmo compõe o disco novo do carioca).
Mas nem só de sucesso ficou marcada a apresentação, também rolou uma gafezinha. No primeiro diálogo de Lulu com a plateia o músico achou que estava tocando na Festa da Uva e chegou a comentar que a cidade e a festa estavam maiores e melhores. Depois, mais ao final, corrigiu o erro.
- Essa não é a festa (da Uva), mas a festa é nossa e as uvas somos nós! - disse.
Ninguém se importou com o errinho. Aliás, com topete vistoso, figurino impecável, animação de sobra e conhecimento sobre a cultura (pelo menos musical) do Brasil, dá para dizer que Lulu representou nossa festa certamente muito melhor do que ele imagina.
Só sucessos
Lulu Santos canta para 2,5 mil pessoas em Caxias
Repertório teve compilação de hits dos 30 anos de carreira do músico
Siliane Vieira
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