Duas famílias, produção de vinho, farta gastronomia italiana e muita história para contar. A combinação não poderia ser melhor quando se fala de um dos endereços mais tradicionais do bairro Santa Catarina e de Caxias: o da antiga Cantina Pão & Vinho, atualmente em fase de revitalização para abrigar um novo espaço enogastronômico, dotado de wine bar e cafeteria.
Todo esse trabalho, obviamente, mescla-se à vocação intrínseca do casarão, originalmente construído para abrigar a vinícola do comerciante José Andreazza e sua família em 1914, conforme abordado na coluna de sexta-feira. A partir de 1947, porém, a história ganha novos protagonistas. É quando o imóvel é adquirido pelo senhor Ângelo Tonet, oriundo da Linha 80, interior de Flores da Cunha.
Além de servir como moradia para a família, composta pela esposa Ângela e pelo 10 filhos, o casarão abrigou a produção e comercialização dos vinhos Atílio Tonet (nome do pai de Ângelo), cuja marca manteve-se no mercado até os primeiros anos da década de 1950.
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Restaurante em 1975
Na metade da década de 1970, a produção dos Tonet foi transferida para a Linha 40, e o prédio que abrigava a cantina passou a ser alugado. Foi barbearia, salão de beleza e depósito de sucata, até que em 1975 as filhas de Ângelo, Colorinda (a Nina) e Marilene, resolveram instalar ali a mítica Pão & Vinho. Era o ano das comemorações do centenário da imigração italiana, da Festa da Uva, da inauguração dos modernos Pavilhões e da revitalização da Casa de Pedra – todos espaços vizinhos do restaurante e que, a partir de então, começariam a receber milhares e milhares de turistas.
Não por acaso, foi no espaço junto ao casarão da cantina que funcionou, temporariamente durante a Festa da Uva de 1975, o Museu do Vinho. A atração foi organizada pela professora Maria Frigeri Horn, diretora de museus da prefeitura na gestão de Mario Bernardino Ramos e responsável pela restauração da Casa de Pedra.
Confira abaixo o filme original de inauguração da Casa de Pedra, em que a então "Cantina do Vinho, Pão e Queijo" e o coquetel servido ao público aparecem a partir do minuto 5.
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A última refeição em 2011
Depois de 36 anos funcionando como uma espécie de “instituição gastronômica” e “cartão de visitas” de Caxias do Sul, a Cantina Pão & Vinho anunciou o encerramento das atividades no início de 2011 - a última refeição foi servida em 27 de março daquele ano. Matéria do Pioneiro na época destacou a fama do restaurante, o aconchego do ambiente e, logicamente, o cardápio típico, temperado com ingredientes saídos de uma horta própria.
O início, em 1975, foi recordado pelo senhor Nestor De Carli, marido de Nina: “Veio a ideia de um restaurante diferente. Servir polenta, radicci, fortaia. Tudo aquilo que a gente tinha sido criado comendo”, contou à época De Carli, marido de Nina, que conduziu o restaurante por anos com o casal de sócios Marilene Tonet Moroni - a Neca, irmã de Nina - e Raul Mário Moroni.
A revitalização
Tombado pelo Patrimônio Histórico do Município, o prédio da cantina ganha novos rumos por meio de uma parceria entre a família Tonet e a empresa Palk Business Hub, dirigida pelo empresário Luciano Bulla e com foco em gestão patrimonial.
Já as definições do restauro e os critérios de intervenção foram elaborados pelos arquitetos Leonardo Bernardi e Carla Todescato, após pesquisa histórica, levantamento das patologias e análise do estado de conservação das edificações, iniciadas ainda em 2016. Em seguida, foram organizados três grupos de critérios: a conservar, a demolir e a construir.
— Quanto ao critério “a construir”, adotamos os princípios de distinguibilidade e compatibilidade para a escolha dos materiais que serão usados. Quando a obra estiver concluída, a comunidade conseguirá identificar com facilidade o que é antigo e o que é intervenção com novos materiais. O prédio tem que ser verdadeiro com a sua história, ao mesmo tempo que conversa com o futuro — observa Carla.
Para o arquiteto Leonardo Bernardi, a intervenção deve ser reversível, ou seja, o projeto não pode comprometer a originalidade do prédio:
— Se daqui a 30 anos a nossa intervenção não servir mais, ela poderá ser removida sem que o prédio perca seu valor arquitetônico.
Símbolo
Já estão sendo feitas ações de divulgação da história do prédio nos próprios tapumes que o cercam. O slogan “Respeitar o passado para ressignificar o futuro” busca mostrar ao público que existe uma relação de respeito com a história do ambiente, prestigiado durante décadas tanto por caxienses quanto por visitantes do complexo turístico composto pelos Pavilhões da Festa da Uva e pelo Museu Ambiência Casa de Pedra. As obras devem estar concluídas em novembro.
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