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A comunidade de São Romédio despediu-se no último final de semana de seu morador mais antigo. Italino Pedron, 102 anos, faleceu no domingo à noite devido a complicações decorrentes de uma queda – ele completaria os 103 daqui a um mês, em 3 de janeiro de 2020. As últimas homenagens ocorrem neste sábado, às 18h30min, durante a missa de sétimo dia, na igreja de São Romédio, localidade onde morou praticamente toda a vida.
Filho do casal Angélico Pedron e Maria Giacoma Giordano, Italiano nasceu em Caxias em 3 de janeiro de 1917. Foi o quarto de uma prole de nove irmãos, completada por Romilda, Attílio, Leonilda (Nilda), Paulino (Nino), Rosalina, Josephina Elza (Fina), Beltrão Eugenio e Julieta (Julia).
Parte de sua trajetória foi resgatada em uma biografia feita pela família para a comemoração dos 130 anos da Sociedade da Igreja de São Romédio, em 2006 – à época, seu Italino estava com 89 anos. Conforme o texto, o garoto residiu até os sete anos na Rua Visconde de Pelotas, em frente ao atual Edifício Parque do Sol.
"Na época, os avós paternos, Giovanni e Maria Pedroni Pedron, em função da idade, decidiram trocar de residência com os pais de Italino, Angélico e Maria Giordano Pedron, vindo então a família a morar na Colônia de São Romédio. Desde então, os vínculos com a comunidade de São Romédio foram fortalecidos. Seus pais, muito religiosos, participavam da vida da comunidade igreja. Doaram parte das terras para o cemitério e a igreja. Sua mãe, Maria, participou como zeladora da Igreja por muitos anos, até falecer, em 1975".
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A igreja
Com aproximadamente 12 anos, em 1929, Italino, juntamente com o pai, Angélico ajudou na construção da nova Igreja de São Romédio, carregando na carreta a areia do rio. O posterior trabalho como pedreiro, mestre de obras e construtor contribuiu também para que ele residisse em outras cidades e bairros de Caxias.
Já em 1975, construiu sua casa em São Romédio, onde foi morar com a família. A partir daí sempre procurou se envolver com as demandas comunitárias, participando das atividades sociais e como membro da diretoria da Associação Igreja de São Romédio em diversas gestões.
O texto de 2006 resumiu bem esse comprometimento:
"Italino ainda hoje sente-se responsável e comprometido com a comunidade, como membro da diretoria e ajudando incansavelmente nas atividades festivas de São Romédio. Nestes 30 anos, tem sido um membro efetivo na vida comunitária, com seu jeito humilde, observador, atento e participativo. A sua mensagem para a comunidade era: "Que os jovens assumam a responsabilidade de dar continuidade a vida da comunidade de São Romédio, com a consciência de fazer parte dela, com o frescor, entusiasmo e a força da juventude."
Na imagem acima, a família Pedron na frente de casa de São Romédio, no início dos 1950: o jovem Italino (segundo à direita) aparece com os pais Maria e Angélico (sentados) e os irmãos Julieta, Josephina, Rosalina, Leonilda, Beltrão Eugenio, Paulino e Attilio (aplicado posteriormente na foto).
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História de 80 anos
Em 2012, seu Italino foi homenageado pela Festa da Uva e recordou de uma história de 80 anos. Participou, aos 95 anos, do corso alegórico que reproduziu o carro de São Romédio na edição de 1932, quando ele, aos 15, também desfilou (foto acima).
Família e homenagem
Em 1956, seu Italino casou com dona Genny Terra de Lima, nascendo dessa união os filhos Luis Alexandre, Janice Maria, José Amaro, Flávio Italino, André Jean e Eduardo, que lhe deram seis netos e um bisneto.
Ele foi sepultado segunda-feira no cemitério da Associação da Igreja de São Romédio. A missa de corpo presente foi celebrada por três padres: o pároco da comunidade dos Santos Apóstolos, padre Camilo Pauletti; o padre Mateus Boldori e o padre Josemar Conte, amigo da família, acompanhados pelos membros da liturgia, coral, e por grande número de parentes e amigos.
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Os dois irmãos
Seu Italino faleceu um mês após a morte da irmã Julieta (Julia) Pedron Tessari, em 31 de outubro. Ela completaria 92 anos em 21 de dezembro. Conforme relato do sobrinho Gilmar Pedron Lorenzi, o tio estava muito sentido com o falecimento de Julia, a única dos oito irmãos ainda viva.
– Ela telefonava seguidamente pra ele, e em todas as festas de aniversário estava presente – conta Gilmar, completando que seu Italino já estava preparando a festa de 103 anos, a ser celebrada em 3 de janeiro.
Na foto acima, Seu Italino e a irmã Julieta em 2005. A missa deste sábado recorda o sétimo e o 30º dia de falecimento dele e dela, respectivamente.
Agradecimento
Parte das informações e fotos desta coluna são uma colaboração do leitor Gilmar Pedron Lorenzi, sobrinho de Italino.
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