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Ela teve início há exatos 40 anos, em um breve trecho da Rua Hércules Galló, próximo ao Estádio Alfredo Jaconi. E neste sábado pela manhã ganha festa de aniversário especial, na Rua Plácido de Castro, entre 6h e 12h – com direito a sorteio de cestas coloniais, bolo e várias atrações culturais. Falamos da Feira do Agricultor, uma das tantas iniciativas que tiveram como mentor o engenheiro agrônomo José Zugno – cuja trajetória será recordada na próxima quarta, 27, durante o lançamento de um livro e de uma exposição (leia abaixo).
A primeira edição ocorreu na manhã de 23 de novembro de 1979, com pequeno público e não mais do que nove feirantes – dos 50 que haviam se inscrito. O início não parecia muito promissor. Eram apenas duas feiras, uma na Hércules e outra na então Vila Kayser, ambas com os mesmos objetivos: beneficiar os pequenos produtores rurais, fomentar a agricultura familiar e levar hortifrútis a preços mais em conta ao consumidor.
Responsável pela feira, o engenheiro agrônomo José Zugno (1924-2008) profetizou em seu discurso: "A feira começa pequena como convém às coisas que pretendem crescer e se tornar permanentes". Dito e feito. Em poucos meses, eram cinco feiras, uma por dia em locais diferentes, funcionando das 6h às 9h e oferecendo produtos frescos e até 150% mais baratos do que os preços praticados no comércio em geral – aumentando os ganhos dos agricultores com a venda direta e à vista.
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Números
Crescia o número de feiras, crescia também o número de consumidores. Um ano depois, em 1980, já eram 70 produtores participantes, inclusive de municípios vizinhos. Conforme jornais da época, no primeiro ano foram realizadas 310 feiras e movimentados 1,7 milhão de quilos de hortifrutis. O segundo ano contabilizou mais de 5 milhões de quilos e 557 edições.
A grande diversidade de produtos comercializados, também era fruto do trabalho da Diretoria de Fomento e Assistência Rural (DFAR) – iniciada por Zugno no final dos anos 1940 de forma pioneira no país, numa época em que ainda não existiam órgãos de governo focados nessa área.
A saber: além dos 40 anos da Feira do Agricultor, 2019 marca duas outras datas emblemáticas do setor: a criação da DFAR, que deu origem a atual Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa) e os 40 anos da Associação dos Engenheiros da Encosta Superior do Nordeste, da qual José Zugno foi entusiasta e membro-fundador.
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Implantação
A criação das feiras do agricultor constava no programa do prefeito eleito Mansueto Serafini Filho quando candidato, em 1976. Ao reassumir a Secretaria Municipal da Agricultura, o agrônomo José Zugno foi incumbido da implantação do formato – e a melhor forma foi fazê-las exclusivamente com produtos diretos.
Com estas feiras, o agricultor caxiense, que já se consolidava como policultor, passou a ter espaço para comercializar sua produção, eliminando o "atravessador" – que, em geral, ficava com a maior fatia de lucro nas vendas.
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As feiras hoje
Atualmente, a feira ocorre de terça a sábado em 34 pontos de Caxias, envolvendo 130 produtores. Nas imagens abaixo, matérias dos jornais Pioneiro e Correio Riograndense de 1979 e 1980, destacando as primeiras edições.
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História em livro e exposição
O livro A Palmeira Humana - Memórias do Naturalista e Escritor José Zugno" apresenta a biografia do ambientalista, escritor e engenheiro agrônomo José Zugno (foto acima).
A obra foi escrita pelo filho Ricardo Zugno, que, nos últimos anos de vida do pai, acompanhou-o de perto em sua produção literária e debruçou-se sobre seu diversificado acervo de textos, fotos e objetos. Já a exposição "Memórias e Coleções do Naturalista José Zugno" é resultado de mais de 10 anos de resgate, organização e catalogação desse material.
Livro e mostra têm lançamento no próximo dia 27, às 18h30min, no Museu dos Capuchinhos (Rua General Mallet, 33A, bairro Rio Branco).
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