Quando se aproximarem as lembranças e comemorações dos 130 anos da Proclamação da República – liderada pelo marechal Deodoro da Fonseca –, ato deflagrado em 15 de novembro de 1889 e que muitos historiadores apontam como um simulacro de golpe de Estado, haverá também de se assinalar um evento que teve consequências pelas décadas subsequentes: a instalação do primeiro governo estadual republicano no Rio Grande do Sul.
Encabeçado também por um militar, o marechal José Antônio Correia da Câmara, a administração que assumiu o poder mostrava figuras que vieram a ter extrema relevância posterior na política local. Alguns viraram até nome de atuais municípios e todos se tornaram nomes de logradouros urbanos na Capital e em diversas cidades, Caxias do Sul inclusive (leia mais abaixo).
A gravura abaixo, retirada do livro Chronologia da Historia Rio Grandense (como grafado na capa), de 1928, revela quem é quem no poder gaúcho no final do século 19 e começo do século 20. Um por um, em diferentes níveis e épocas, eles assumiram postos mais elevados no decorrer dos anos.
O maior expoente, sem dúvida, foi o secretário do Interior Júlio Prates de Castilhos, todo-poderoso chefe do Partido Republicano, que assumiu como presidente do Estado pela primeira vez em julho de 1891, ao ser eleito pela Assembleia Constituinte, ficando apenas cinco meses no cargo. Depois, voltou ao posto em 1892, de forma mais efêmera ainda (ficou apenas um dia), até ser eleito novamente e ser empossado em 25 de janeiro de 1893, para um mandato de cinco anos. A morte dele, em 1903, aos 43 anos, causou expressiva comoção popular no Estado.
Figuras importantes do governo republicano
Marechal Câmara – Segundo Visconde de Pelotas, nasceu em 1824 e morreu em 1893. Considerado herói na Guerra do Paraguai, serviu ao Império como ministro da Guerra.
Júlio de Castilhos – Líder positivista, nasceu em 1860, em um então distrito de Cruz Alta, e morreu em 1903. Formado em Direito, atuou como jornalista e político. Assumiu o Estado em julho de 1891, mas, em novembro, devido à instabilidade política, renunciou. Em junho de 1892, foi reposto ao cargo, no qual ficou apenas por um dia. No pleito seguinte, foi reeleito, permanecendo até 1898.
Em 12 de março de 1897, quase no fim de seu período governamental, Júlio de Castilhos visitou Caxias pela primeira vez. E ficou maravilhado com o desenvolvimento da cidade e da região. No discurso de saudação aos caxienses, pronunciado no antigo Hotel Bersani, Castilhos cunhou a famosa expressão "Pérola das Colônias" para descrever seu encantamento com a cidade. E antes de despedir-se, fez uma promessa que seria cumprida em 1910: unir Caxias a Porto Alegre por uma linha férrea, feito que revolucionaria e economia e a vida nas colônias italianas — não por acaso nomeia a principal avenida de Caxias do Sul.
Ramiro Barcellos – Nasceu em Cachoeira do Sul, em 1851, e morreu em 1916. Médico, notabilizou-se como político e escritor. Foi deputado e senador. Seu poema épico-satírico Antônio Chimango, no qual retratava seu primo Borges de Medeiros, tornou-se marco da literatura gaúcha.
Antão de Farias – nascido em São Sepé, em 1854, morreu em 1936. Foi militar da Marinha, engenheiro civil, jornalista e político. Tornou-se deputado estadual e ministro da Agricultura e Viação, no governo Floriano Peixoto.
Barros Cassal – nasceu em Alegrete, em 1858, e morreu em 1908. Jornalista e político, foi chefe de polícia do Rio Grande do Sul, de 1889 a 1890 e de 1891 a 1892. Como membro da junta governativa, assumiu o poder do Estado no final de 1891 e foi presidente interino até março de 1892.
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Um busto surge em 1914
Inaugurada no mesmo dia do busto de Dante Alighieri, 15 de novembro de 1914, a escultura que homenageia Júlio de Castilhos está localizada na outra extremidade da Praça Dante Alighieri, próxima à Rua Dr. Montaury (acima).
Em mármore, a estátua foi moldada na Itália pelo escultor Prosperi. O conjunto original era adornado por armas riograndenses talhadas em bronze. Circundando a parte superior da coluna estavam duas ramagens, também em bronze, representando o carvalho e o louro, símbolos da força e da glória. À frente, a mensagem "A Júlio de Castilhos – A Pérola das Colônias Italianas".
Nada disso sobreviveu a décadas de vandalismo. Atualmente, em função dos furtos das placas de bronze na área central, a prefeitura optou pela retirada da placa antiga, substituindo-a por um modelo provisório na base.
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Parte das informações desta página foi publicada originalmente na coluna Almanaque Gaúcho, do colega Ricardo Chaves, de Zero Hora.
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