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O passado, o presente e o futuro das famílias Slomp, Lain e Conte estarão em evidência neste sábado à tarde, no Museu Municipal de Caxias do Sul. É quando ocorre o lançamento do livro Pátina do Tempo: Lembranças da Filha de uma Imigrante no Sul do Brasil, com as memórias da escultora Dilva Slomp Conte, 87 anos, mescladas a uma ampla pesquisa histórica perpassando quatro gerações.
Mais do que um evento literário, a celebração oficializa também a doação de peças importantes do acervo têxtil da família ao museu, entre elas os corpetes dos vestidos de casamento de Dilva e da mãe, Vergínia, usados respectivamente em 1906 e 1956, e os lençois de linho do enxoval de ambas, destacados na publicação (confira trechos abaixo).
As memórias "da Forqueta" – onde Dilva nasceu, em 1931 – norteiam boa parte do livro. A autora, porém, retrocede algumas gerações e "viaja" a Europa para entender a trama que liga os antepassados italianos a seus descendentes espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Nessa jornada, contextualiza o cenário que levou os avós maternos, Giovanni e Maria Madalena Lain, a abandonarem o Velho Continente em busca de uma nova vida na América; a história que seus pais, Joaquim Slomp e Vergínia Lain, construíram em Forqueta a partir do casamento, em 1906; o pioneiro comércio de secos & molhados de Joaquim; a estação ferroviária; a trajetória da cooperativa mais antiga da América Latina; a juventude; a constituição de sua própria família, a partir da união com Joel Conte (in memoriam), em 1956; os filhos e os sonhos que deposita em seus netos.
Toda essa relação de fortes laços afetivos, aliás, pode ser resumida em uma das fotos mais emblemáticas do álbum de família de dona Dilva e que também integra o livro (abaixo): o casamento com Joel no mesmo dia da celebração das bodas de ouro dos pais, Vergínia e Joaquim, em 15 de setembro de 1956, há exatos 62 anos. Uma data que merece, portanto, todas as comemorações neste sábado...
Tim-tim!
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Objetos e obras
A solenidade deste sábado dá sequência a recente entrega de duas obras de dona Dilva de extrema relevância para a história e o patrimônio cultural da cidade: a escultura Anjo Samuel, inaugurada em junho, na Praça Fábio Formolo, em frente ao Cemitério Público Municipal; e o busto de Primo Slomp, seu irmão, eternizado em bronze no Museu da Uva e do Vinho de Forqueta desde 18 de agosto.
Além do lançamento do livro e da doação das peças, o público poderá conferir uma exposição de objetos pessoais e obras da escritora e artista, além de explicações sobre seu processo criativo.
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Trechos do livro
"Meu vestido foi confeccionado por uma costureira de Caxias, a Zita Franzoi. Doei o tule das saias para a igreja de Forqueta, que serviram para enfeitar o andor do nosso Santo Antônio na procissão pelas ruas do povoado. ... Devo agradecer a Deus a vida auspiciosa que nos concedeu, foi muito misericordioso com toda a família".
"O lençol de linho foi o primeiro do meu enxoval... Nosso lençol de núpcias foi ricamente bordado em crivos pela Flora Tauffer, exímia bordadeira, esposa do Paulo e mãe do Sedenir. Minha blusa de noiva também era linda, de renda branca chamada "chantilly", rebordada com pequenas pérolas nacaradas. Tinha uma saia de armação engomada embaixo; e em cima, duas saias de tule godê ponche, amplas e sobrepostas; ficavam fofas e leves, parecia uma nuvem esvoaçante. Estava muito feliz por casar com meu amado Joel. Ele estava mais lindo do que nunca! Acho que era o reflexo da felicidade que pairava sobre nós preconizando anos felizes, como de fato foram e viemos a celebrar bodas de ouro, como meus pais, com grande festa no Hotel Samuara".
"... o lençol de casal da minha mãe, feito de linho, com mais de meio metro de crochê feito à mão e preguinhas, feitas pela sua irmã mais velha, Marieta. Guardo também a blusa do vestido de bodas de minha mãe, que era azul-marinho. De acordo com registros históricos, não usavam vestido branco para se casar. A blusa é de um tecido acetinado, com mangas bem bufantes até os cotovelos, depois seguem bem justas ao longo dos antebraços até os punhos. Nessa parte das mangas havia rosas de renda branca aplicadas, e a manga era fechada por uma fileira de pequenos botões de madrepérola. Na gola da blusa tinha, também, as mesmas aplicações. A saia devia ser também azul-marinho, e a cintura bem justinha, o que a deixava bastante elegante! Acho que a mãe usava espartilhos, pois encontrei um no meio dos entulhos do sótão da nossa casa".
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Programe-se
:: O que: lançamento do livro Pátina do Tempo: Lembranças da Filha de uma Imigrante no Sul do Brasil, de Dilva Conte, e exposição de objetos pessoais e obras da artista
:: Quando: neste sábado, às 15h. A exposição segue até o dia 22 de setembro, de terça a sexta, das 9h às 17, e aos sábados, das 11h às 17h
:: Onde: Museu Municipal de Caxias do Sul (Rua Visconde de Pelotas, 586)
:: Quanto: entrada franca
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