O Pioneiro foi fundado no dia 4 de novembro de 1948. Para celebrar o aniversário de 65 anos, nos textos a seguir você encontra algumas características de Caxias do Sul naquela época. E abaixo, confira uma galeria com fotos da década de 1940.
Congresso Eucarístico Diocesano, um marco religioso
A mobilização comunitária, a fé e o forte apego ao sagrado, bases do cotidiano dos primeiros imigrantes italianos e seus descendentes, atingiram o ápice em 1948. De 6 a 9 de maio daquele ano, Caxias sediou o 1º Congresso Eucarístico Diocesano, um dos maiores acontecimentos de caráter religioso de sua história.
Com a Diocese presidida pelo primeiro bispo da cidade, Dom José Baréa (atuante entre os anos de 1936 e 1951), Caxias recebeu milhares de fiéis e dezenas de sacerdotes, além de todos os bispos do Estado.
Entre as atividades daqueles três dias, a comunhão de aproximadamente 12 mil crianças na manhã do dia 6 e a procissão de Nossa Senhora de Caravaggio. Um enorme cortejo de automóveis acompanhou o traslado da santa desde o santuário de Farroupilha até a Catedral Santa Teresa, onde a imagem permaneceu por algumas semanas.
A Praça Dante Alighieri, à época rebatizada de Rui Barbosa, transformou-se em palco para uma série de celebrações, bênçãos e festejos.
11 vereadores e um novo prefeito
Em 1948, a política vivia um período de readaptação. Era tempo de uma nova administração na prefeitura. Conforme o livro Os Poderes Fazem História, de Guiomar Chies, os municípios vinham de um período de 10 anos sem Poder Legislativo, com as casas fechadas por imposição da Constituição de 1937, do governo Getúlio Vargas.
A Constituição de 1946 reabriu os Legislativos e em 15 de novembro de 1947 foram realizadas eleições municipais. A nova legislatura tomou posse em 29 de novembro daquele ano, na sede da Câmara, onde hoje está instalada a Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima. O prefeito eleito foi Luciano Corsetti, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Chies relembra que Corsetti, de origem empresarial, havia entrado na disputa a pedido de amigos, mas não alimentava esperança de se eleger.
- No dia da apuração, diz que ele saiu da cidade porque achava que nem adiantava acompanhar. Ficou surpreso - conta o historiador.
A composição da Câmara era de 11 vereadores e foi alterada em 16 de janeiro de 1948, devido à realização de novas eleições na sessão de Ana Rech. Dois parlamentares do Partido Social Democrático (PSD) deram lugar a representantes do Partido da Representação Popular (PRP). Também tinham representação na Câmara naquele ano o PTB e a Coligação Democrática pró Grandeza de Caxias (CD), de acordo com a publicação de Chies.
Rivalidade verde e grená se consolida
Um ano para começar a consolidar uma das principais rivalidades do futebol do interior do Brasil. Com o retorno do Flamengo ao citadino em 1947, após três anos de licenciamento por dificuldades financeiras e muitas dúvidas sobre o futuro, o duelo Fla-Ju, que posteriormente se transformaria em Ca-Ju, ganhou definitivamente o status de clássico a partir do final da década de 1940.
Logo no ano da volta, o Flamengo conquistou o título da cidade após um duelo eletrizante diante do Juventude, com direito a vitória de virada por 3 a 2, após estar perdendo por 2 a 0. E, na temporada seguinte, o time grená ainda abocanhou o bicampeonato. Lógico que, na época, o futebol em Caxias do Sul era amador, já que o profissionalismo no esporte começou em meados de 1950.
Dois anos antes, no entanto, o Juventude, já com 35 anos de existência, se orgulhava em ter estádio próprio, a Quinta dos Pinheiros, no mesmo local onde hoje está o Alfredo Jaconi, enquanto o Flamengo, com 13 anos e ainda engatinhando, costumava mandar seus jogos em diversos campos da cidade, como a Colina Fantasma, nas imediações da atual prefeitura, ou a Chacrinha - a Baixada Rubra, que antecedeu o Centenário, foi inaugurada em 1951.
Fortalecimento e gestação de indústrias
Ao lado da agricultura, já forte, a indústria encontrava um ambiente propício para seu fortalecimento na Caxias de 1948. Fundada em 1896 por Abramo Eberle, a Metalúrgica Eberle, então com 52 anos, vivia sua fase de maior expansão em 1948, quando inaugurava uma nova unidade fabril, a Maesa, no bairro Exposição.
A conquista definitiva do mercado nacional decorreu de uma lacuna: a dificuldade de importar máquinas durante a Segunda Guerra Mundial na década de 1940. Mas se consolidou no pós-guerra, depois de 1945. A empresa continuava fornecendo em 1948 espadas e ferragens militares para as Forças Armadas. Também produzia talheres, artigos religiosos de metal, prata e ouro e fivelas, com representantes em todos os Estados e no Exterior.
Em 1948, Ângelo Francisco Guerra fundava na cidade uma das primeiras fábricas de implementos rodoviários do Brasil, a Guerra & Irmãos, no início dedicada à fabricação de carroções de tração animal (meio de transporte regional da época). A Gethal SA também inaugurava no dia 18 de dezembro de 1948 sua fábrica de compensados em Caxias, com a presença de ministro e autoridades.
Marcopolo (na época, Nicola & Cia. Ltda) e Randon não existiam em 1948, mas estavam sendo gestadas em um contexto favorável à criação de um polo metalmecânico de referência nacional em Caxias. Tanto que a montadora de ônibus e a fabricante de implementos rodoviários, hoje conhecidas no mundo todo, nasceram no ano seguinte: em 1949.
Cultura em ebulição no pós-guerra
As pinturas de Aldo Locatelli na Igreja de São Pelegrino ainda não haviam sido criadas e não existia nenhuma instituição de ensino superior ou escola de balé na Caxias de 1948, mas a cidade estava longe de contar com uma vida cultural tímida. Para os encontros sociais e religiosos, as mulheres vestiam trajes acinturados e com saias na altura das canelas. A moda era basicamente destinada a elas. O footing dominical, após a missa das 10h na Catedral, era programa obrigatório.
As datas mais celebradas eram as festas da Igreja - Natal, Páscoa e o dia da padroeira da Catedral, Santa Teresa de Ávila -, acompanhadas de quermesses com atrações como jogo da mora, pau de sebo, tiro ao alvo e apresentações de bandas. Já no início do século 20 haviam sido criados os primeiros cafés e clubes, como o Juvenil (1905) e o Recreio da Juventude (1912), bem como a primeira biblioteca pública, em 1917, e a Biblioteca Pública Municipal, 30 anos depois.
Os primeiros teatros e salas de cinema, como o Juvenil, o Theatro Apollo, o Central surgiram antes dos anos 1930 e, além de filmes, cediam espaço para companhias de teatro e grupos de ópera, que costumavam vir da Capital ou eram formados por italianos presos na América durante a Segunda Guerra (1939-1945) - um dos mais importantes foi Tito Schipa (1888-1965), em 1943. Os filmes chegavam a Caxias com dois ou três anos de atraso, lembra a historiadora Loraine Slomp Giron, e seriados como O Gordo e o Magro faziam sucesso nas telonas, com episódios renovados a cada semana.
No final da mesma década, surgiu o Centro Literário José de Alencar, criado pelo Círculo Operário Caxiense, voltado a conferências e a sessões de leitura.
A professora de História da Arte na UCS Silvana Boone explica que, até a criação da Escola de Belas Artes, em 1949, a produção artística da cidade estava limitada a atividades domésticas e à produção de arte sacra, protagonizada pelo Atelier da família Zambelli, responsável pela estatuária religiosa da cidade e de grande parte da região. Foi a escola, aliás, a responsável pela formação das primeiras educadoras de arte em Caxias e entorno.
Memória
Em 1948, quando o Pioneiro foi fundado, Caxias do Sul tinha 35 mil habitantes
Para celebrar o aniversário, o jornal conta como era a cidade naquela época
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