Nem todos lidam bem com despedidas. E nem falo aqui da morte. Mas tem gente que vai carregar os dissabores do ano passado, como um pesado fardo, 2023 adentro. E, se bobear, em 2024 também.
Não por acaso essa imagem aí abaixo, do talentoso fotógrafo caxiense Lucas Lermen, abre a primeira coluna 3por4 deste ano. Pelo menos para mim, esse imenso paredão rochoso parece ser a transposição desse ano que se descortina. Numa primeira avaliação, eu diria que é impossível escalar essa montanha. E talvez o seja. Porém, a delícia da vida é justamente a vírgula que se impõe diante do que parece imponderável.
E, se estivermos bem fisicamente para essa travessia, e se usarmos os melhores equipamentos, e se estivermos acompanhados de pessoas com experiência em situações como essa e se nos permitirmos, durante a subida, vislumbrar a paisagem e contemplar não só a vista, mas também o valor dessa trajetória? Dessa forma, parece que é possível encarar essa montanha íngreme, cheia de desafios, uns tantos bastante escorregadios.
Nessa coluna, que tem a missão de ser uma janela para um oásis possível, apesar de utópico, recheado de sensibilidade, ora que nos provoca ou até choca, ora que nos acalenta e abraça — porque a dicotomia é a essência da arte — o valor da cultura e seus desdobramentos irá sempre reinar.
É renovada, a partir de hoje, na primeira coluna do ano, a nossa aliança e compromisso de estabelecer pontes entre os que produzem o precioso néctar (como eu chamo esse valor simbólico da arte) com a comunidade da Serra gaúcha, que reconhece não apenas a sua relevância, mas pode amplificar seus sentidos, fruindo e se banhando nessa preciosidade.
Valorizar todos que participam dessa cadeia produtiva é também contribuir para que essa engrenagem funcione. Que em 2023 esse espaço possa amplificar ainda mais a vida que pulsa por meio das mais diversas manifestações artísticas, do folclore às vanguardas que não param de surgir, do pitoresco e tradicional ao contemporâneo — revisitando o passado para nos lançar ao futuro.