
Calçada da esquina cheia. Dezenas de carros estacionados no entorno. Burburinho, muvuca, alvoroço, agitação. Duda achou que fosse um acidente. Perguntou para uns caras o que estava acontecendo.
— Raimundo Fagner tá aí no boteco do seu Pedro.
Capaz! Incrédulo, precisou ver para crer, assim como São Tomé. À direita, numa mesa, lá estava ele, o cantor cearense. Cercado de mulheres que pediam para que ele cantasse Borbulhas de Amor, tomava uma cervejinha.
Quem levou Fagner foi Clóvis Tadeu. Músico e amigo do artista, ele morava no Sagrada Família, perto do icônico estabelecimento do bairro – quem é de lá, sabe.
Antes, fizeram uma paradinha em um bar de beira de estrada, em Vila Seca. Estavam voltando de Lajeado Grande e Fagner queria comprar cigarros. Só fumava Charm, mas não tinha lá. Aproveitou para jogar sinuca.
— O senhor não é o Fagner, o cantor? — perguntou a guria atrás do balcão.
Pronto! Encheu de gente em volta. Veio até o vizinho pedir se Fagner podia ir à casa dele porque as filhas queriam conhecê-lo. E ele foi. Puxaram mesa, cadeiras e uma garrafa de uísque.
— Se o senhor não se importa, eu prefiro uma purinha — disse o artista.
Corre todo mundo de volta para o bar para pegar uma garrafa de pinga. Não é todo dia que se tem a honra de atender a um pedido de Raimundo Fagner.
No boteco do seu Pedro, se tinha Charm, ninguém lembra, mas tinha cachaça de funcho que Fagner provou. Dizem que depois que ele tomou, a bebida virou a mais pedida do boteco. Teria entrado no cardápio como drink Coração Alado.
Até hoje tem gente que não acredita que Fagner esteve no bar do seu Pedro, mas Duda e Clóvis garantem que é verdade. Minha amiga Kelen também:
— Tenho até um autógrafo dele!
P.S.1: À noite, milhares cantaram com Fagner no Teatro de Lona, no encerramento da Festa da Uva de 1994, há exatos 31 anos (era 13 de março). Durante o show, segundo matéria do Pioneiro, falou sobre a primeira vez em Caxias, na Festuva de 1969.
— Nunca mais esqueci porque foi a primeira vez que tomei um porre de vinho.
P.S. 2: Essa crônica foi escrita em 2023 (inédita até então), quando Clóvis Tadeu Garcez me contou essa história. Na sexta-feira passada, 7 de março, ele faleceu aos 73 anos. Fica a homenagem ao artista e figura querida da cidade.