Há 15 anos, em uma de suas constantes idas e vindas entre a Serra gaúcha e a capital por conta de seus inúmeros compromissos de negócios, o empresário Ricardo Calliari Varaschin foi surpreendido ao contemplar uma das montanhas que resplandecia dourada na estrada que liga Caxias do Sul a São Sebastião do Caí. Naquela manhã ensolarada havia uma obra no meio do caminho, e uma pedra da mesma montanha, que ele vislumbrava. Estacionou o carro e colocou uma que acabara de “garimpar” no porta-malas, de maneira quase que intuitiva, pois como todo bom empresário, possui ampla visão de seu entorno e é curioso, tanto que desejou traduzir aquela pedra em uma peça de arte. Em casa, com o auxílio de um parafuso foi transformando a porção de grés bruta em uma imagem poético-afetiva, dando forma a uma figura feminina em período de gestação. Ele homenageara com seu primeiro feito sua mulher, Daniela Salatino Rech Varaschin, então grávida de Valentina.
— A obra foi forjada com muita leveza, o resultado foi emocionante — diz.
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Despertava com intensidade neste momento na vida de Ricardo, filho de Ebrimino Varaschin e Maria Lélia Calliari Varaschin, duas novas descobertas íntimas de um novo homem, que seria pai e um escultor diletante e talentoso. A partir daquele primeiro feito, resolveu investir em outras texturas para suas criações. Veio a pedra-sabão, na qual não foi tão bem sucedido, e depois o basalto, sua mais completa tradução.
As esculturas seguintes, Varaschin projetou em formato de mãos em oração e presenteou amigos queridos como Ronaldo Gazzola, Mara Ribeiro Mendes e Lorita Sanvitto Andreazza, que interpretaram com emoção a simbologia expressada pelo artista. Claro que seus familiares não ficaram alheios ao circuito dos contemplados com artefatos únicos e exclusivos, forjados com ineditismo pelo escultor do clã. Entre os grandes feitos de Ricardo, figura uma pia, peça de arte utilitária, desenvolvida sobre uma rocha de quase uma tonelada e que hoje está devidamente instalada em um dos lavabos de sua casa de Gramado. Este item faz parte do acervo pessoal e ratifica particular afirmação do quanto vale a pena o esforço e as horas dedicadas na produção de novos elementos.
Como o tempo não para, ele também segue atuante na exploração de outros materiais.
— Meus amigos mais próximos já descobriram que aproveito madeira de demolição, raízes em grandes formatos desperdiçadas com as quais recrio objetos — conta satisfeito com os desafios.
Na verdade, quem conhece o trabalho de Ricardo Varaschin sabe que ele é capaz de transformar a mais ínfima fração de madeira em um aparador e até em uma escultura de parede, ainda que não tenha frequentado o meio acadêmico das artes plásticas.
Em tudo há uma exclusividade que é contornada pela habilidade manual, inteligência espacial e criatividade. O mergulho do marido de Daniela e pai amoroso de Valentina, hoje com 15 anos, na arte fez com que ele direcionasse ainda mais apuro ao seu olhar em visitas aos museus do mundo. Em sua viagem mais recente, por exemplo, explorou, com a minúcia de observação de um ourives, as esculturas em exposição na Galeria Nacional do Canadá, em Ottawa, capital do país norte-americano.
Atualmente, o comandante da Aluflex Indústria e Comércio de Peças Náuticas dedica horas extras para trabalhar com afinco em seus projetos artísticos, que para ele são de um valor imensurável. Por meio deste exercício criativo, hoje explora a matéria-prima da empresa com uma excelência ainda maior. As peças são aproveitadas ao máximo, há pouco resíduo, e esse ganho no negócio, só foi descoberto após sua incursão por esse universo. Privilegia uma sucessão de processos que busca a sobrevida dos materiais descartados, que é um conceito definitivo para uma nova forma de consumo e produção.
Sua atividade cotidiana, empreender, também tem resultados dentro de casa. Enquanto ele molda as pedras do jardim de sua residência na Região das Hortênsias em figuras extraordinárias, sua esposa também se debruça no ritual do feito à mão e está produzindo tapetes incríveis com composições de uma artesã para lá de experiente, elogia. O trabalho de ambos acaba ganhando a interação dos amigos nas reuniões em que Varaschin assume forno e fogão para preparar jantares, outro quesito que fez preceder sua fama de festejado “chef”.
Na verdade, nosso entrevistado descobriu uma terapia experimental no fazer manual, se valendo dos objetos como expressão de arte. Com esse propósito, elucida seu potencial ao despertar a percepção do espectador como uma afirmação literalmente concreta de que a dedicação recompensa, dá sentido, e claro, ressignifica a vida.
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