Tia Lili foi uma espécie de tutora de Zeca Nogueira. Com ela o rapazote frequentava antiquários de Campinas, em São Paulo, sua cidade natal. E foi assim que ele não só desenvolveu o gosto e o olhar refinado, mas também uma profissão. Residindo há sete anos em Caxias do Sul, o campineiro homenageia a memória familiar e afetiva com o Lili Antiques, um antiquário que ele abriu há pouco mais de um mês, no Centro.
– Foi esta tia e madrinha que me levou a ter o interesse pelas antiguidades. Ela me transmitia esse amor pelos objetos antigos – diz Zeca.
Aos 55 anos, essa não é a primeira investida dele no ramo. Entre os anos 1990 e 1992, manteve um estabelecimento semelhante em Campinas. A Belle Époque, o Barroco, a Era Vitoriana, a Art Nouveau e o Clássico se confundem nas referências estéticas e nas peças que Zeca seleciona tanto para a sua casa como para o antiquário, instaurado na Galeria Martinato. A inspiração vem dos brocantes parisienses.
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– Quando eu digo brocante, é por eu focar mais em peças, fazendo um mix de produtos escolhidos a dedo que vão desde botões Art Déco, bijoux antigas mais delicadas e itens para uso como pratas, cristais, louças, até porcelanas europeias, orientais e gravuras dos séculos 18 e 19 para decoração – descreve ele, zeloso e detalhista.
Atento e perfeccionista, Zeca criou o Lili Antiques movido pelo afeto.
– Nunca tive a pretensão de fazer um grande antiquário, pois aqui em Caxias já existe. Poeticamente falando, quero compartilhar o que eu aprecio com as outras pessoas. O Lili é a oportunidade de realizar novamente um grande sonho – descreve.
O espaço, que é cuidado com esmero, com peças decoradas com flores naturais, acolhe afetuosamente cada um que se achega. E para Zeca, esses encontros são momentos de uma alegria sem tamanho.
– O que me encanta é que as pessoas que visitam o espaço são também muito interessantes. A gente troca histórias – afirma.
Em meio a uma miscelânea de mais de 500 peças reunidas e guardadas no decorrer de uns 30 anos, há opções mais simples ou sofisticadas. E Zeca considera um enigma o que move a escolha das pessoas:
– É um mistério. Acredito que cada coisa tenha seu dono. Tem uma hora que chega alguém que bate olho em algo e leva. Isso é inexplicável, é como reviver o passado saudoso de cada um. É aquilo que chamados de saudade de um tempo. Vou apurando o olho e gosto, reunindo artigos que misturam valor artístico, histórico e monetário. Não jogo qualquer informação para o colecionador. Procuro saber ao máximo sobre cada item, movimento ou período artístico – descreve.
Outra particularidade da vida dele e que se espalha pelas paredes do Lili Antiques são as coleções de santos, reunidas por períodos, categoria artística e matéria prima.
– É devoção mesmo – confessa, conhecido pelo cultivo da fé e religiosidade.
Animado com sua nova empreitada, o colecionador de relíquias vive um momento de afirmação de entrosamento com a cidade que elegeu para viver.
– Estou feliz com a receptividade. Percebo que estão gostando, comentando e indicando o meu trabalho. Se a gente faz com amor isso é percebido e a recompensa vem – declara.