A gigantesca repercussão da manifestação do vereador Sandro Fantinel (agora sem partido) na sessão de terça-feira (28/2), quando desferiu impropérios contra trabalhadores baianos e o povo da Bahia, evidencia a falta de reação inicial no ambiente político para reduzir danos, conter o estrago e pedir desculpas. A fala do vereador foi desastrosa, pois, além de cometer injustiça e discriminação com o povo baiano, expôs Caxias do Sul, o Estado e a região, ainda às voltas com o gravíssimo flagrante de condições de trabalho análogas à escravidão. Não se pode tolerar falas e manifestações que são discriminatórias, e as respostas, reações e, quando for o caso – como agora –, as desculpas precisam ser rápidas e imediatas, para não deixar dúvidas. Nesses casos, não pode haver dúvidas.
O governador Eduardo Leite não precisou ser provocado. No mesmo dia, manifestou-se em rede social de forma inconteste sobre a fala de Fantinel. O distanciamento lhe favoreceu na eloquência. Mesma agilidade não houve do prefeito Adiló Didomenico, que esperou pela quarta-feira para emitir nota e não avançou na avaliação da fala do vereador protegendo-se no “respeito à autonomia do Legislativo”. Até nem pode atropelar essa autonomia. Limitou-se então a reforçar o discurso padrão, de “repúdio a qualquer forma de preconceito e discriminação”. Na prática, pouco disse. O vacilo maior deu-se na Câmara, onde o presidente Zé Dambrós (PSB) relutou em encaminhar uma nota com pedido de desculpas, ampliando a exposição da Casa no episódio.
Ao iniciar a sessão de quarta-feira (1º/3), o vereador Rafael Bueno (PDT) leu um ofício assinado pelas bancadas de PDT, PT e PSB cobrando posição da Casa. Dambrós afirmou então que a Mesa já havia tomado a iniciativa de elaborar a nota. Minutos antes, em entrevista ao Gaúcha Hoje, na Gaúcha Serra, ele reafirmara posicionamento da terça-feira, de que um pedido de desculpas da Câmara era desnecessário, porque “cada vereador deve responder por suas falas”.
Desculpas eram obrigatórias
As manifestações do vereador Sandro Fantinel são um caso exemplar para pedido imediato de desculpas – no caso ao povo baiano. Ao protelar essas desculpas e um posicionamento formal da Câmara, o presidente Zé Dambrós (PSB) não levou em conta o aspecto institucional, pois o Legislativo é a representação política da população caxiense e, por meio dele, é a população quem pede desculpas – no caso intransferíveis, pois os baianos foram ofendidos.
Vale a mesma lógica para o Poder Executivo, que poderia ter sido mais explícito em sua manifestação. Onde, aliás, não consta nenhum pedido de desculpas ao povo baiano. E precisava haver, pois eram obrigatórias, e o prefeito também representa todos os caxienses.