Não teve o glamour de grandes entrevistas, mas reuniu aspectos pitorescos. Surgiu no ar um rumor, uma escaramuça política sobre o então prefeito de Caxias do Sul, Mansueto Serafini, retornar ao PDT, aquilo era dezembro de 1990. A "novela" estava enrolada, e a chefia de reportagem da época me incumbiu: vamos direto na fonte, ver o que o fundador e líder maior do partido, Leonel Brizola, achava dessa possibilidade. 

Com ajuda de um repórter do Estadão, conseguira o telefone da propriedade rural de Brizola no Uruguai, onde se embrenhara após vencer a eleição ao governo do Rio de Janeiro. Naquele tempo, contato telefônico, telefone fixo, não era simples. Tentei por dias, mas sem sucesso. Era uma fazenda, na zona rural. Às vezes, uma funcionária da casa atendia, com voz de senhora já de alguma idade, e dizia simplesmente:

– O governador está no campo.

Até que uma noite, já tarde, o próprio Brizola atendeu a ligação. Me recompus do susto inicial, identifiquei-me como repórter do jornal de Caxias e, semanas após uma eleição geral que consagrara o PDT com as eleições de Brizola e de Alceu Collares para os governos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, obviamente pedi a ele uma avaliação sobre o novo panorama político nacional antes de entrar no assunto que me interessava.

Brizola empolgou-se e engatou um discurso efusivo de saudação aos caxienses. Pareceu-me que imaginava estar falando a uma emissora de rádio. A entrevista seguiu por alguns minutos até que Brizola, parecendo dar-se conta de que não era uma entrevista para rádio, decidiu abruptamente:

– Vamos encerrar a entrevista.

Tentei convencê-lo de que ainda que tinha uma pergunta a fazer, mas ele estava resoluto: hora de encerrar a entrevista. Apelei por apenas uma pergunta a mais, e talvez o tenha comovido, pois acabou consentindo. Então disparei:

– Fala-se em Caxias sobre o ingresso do prefeito Mansueto Serafini no PDT...

Ele atalhou de pronto, sem que eu concluísse a pergunta:

– Eu já cansei de esperar pelo Mansueto – disse Brizola.

Suspirei aliviado. Tinha a resposta que eu precisava, que se tornou o título da matéria. Nos despedimos então. E, depois disso, Mansueto nunca ingressou no PDT.