Com frota ultrapassada, tentativa de atualização do modelo de passagem e reclamações quanto à qualidade do serviço prestado, a nova diretoria da Coleurb de Passo Fundo assume a empresa de transporte coletivo com desafios a curto e longo prazo. A troca da propriedade foi divulgada em 3 de abril, com a promessa de renovação de 10% dos veículos.
Hoje, 103 ônibus urbanos são usados para o transporte coletivo de Passo Fundo, sendo 80 da Coleurb e 23 da Companhia de Desenvolvimento de Passo Fundo (Codepas), empresa pública que atua em sete rotas. Enquanto isso, a Coleurb possui 26 linhas, que circulam diariamente das 6h às 23h40min.
Para ouvir as demandas dos passageiros, GZH Passo Fundo circulou pela cidade em busca das reivindicações de quem é usuário do serviço. Entre quem utiliza o transporte para se deslocar dos bairros ao centro, a principal reclamação é quanto aos horários e condições das paradas de ônibus.
— Em dia de chuva não temos abrigo pra esperar o ônibus. Também já peguei ônibus que chovia dentro, então tem que melhorar muito. Estamos felizes com a venda (da Coleurb), tomara que finalmente tenhamos ônibus novos — comenta a aposentada Nice Cerati.
— Eu pego ônibus no bairro Jaboticabal e a cobertura da estrutura do ponto é velha. Também acho o preço caro para a qualidade (dos veículos). Além disso, eles não cumprem os horários certos, o que faz com que eu tenha que pagar aplicativo de carro para vir para o trabalho — comenta a operadora de caixa Rayana Martins.
— Nos feriados, os horários reduzem muito. Eu começo bem cedo no trabalho, sou enfermeira, então é difícil depender de horário, às vezes só pegando aplicativo mesmo. E minha parada não tem cobertura, então em dias de chuva me molho — resume Fátima Britto.
Outra reclamação é quanto à demanda e cumprimento de horários. Segundo os passageiros, é comum conviver com o atraso dos ônibus.
— Já fiquei uma hora na parada, esperando, porque o horário não é cumprido. A gente perde tempo e se atrasa, tem que sair de casa duas horas antes do compromisso. Fora que de manhã cedo é perigoso uma mulher, sozinha, esperando. É difícil — diz a aposentada Fátima Almeida.
O mesmo problema afeta a aposentada Marcia Castani, que utiliza a linha Secchi para se deslocar:
— O que precisa melhorar é a quantidade de ônibus e os horários que levam para os bairros. A qualidade (dos veículos) acho razoável.
Já o promotor de eventos Rodrigo Soares utiliza a linha da Vila Fátima quando precisa visitar o centro. No caso dele, o tempo de espera também atrapalha:
— Só tem vários ônibus em horários de pico. No resto do dia é a cada 25 minutos e nem dá pra acompanhar pelo aplicativo porque não é atualizado.
Os planos da nova direção
No começo de abril, a Coleurb passou o controle acionário ao empresário Sérgio Tadeu Pereira. Junto do anúncio da venda, a empresa divulgou planos para curto prazo, que incluem a renovação de 10% da frota, substituição de outros 35 ônibus por modelos seminovos e atualização do sistema de passagens, passando a operar de forma eletrônica.
Questionado, o novo diretor da Coleurb, Carlos Henrique Pereira, afirmou que a coordenação da companhia realiza estudos para traçar as estratégicas quanto a necessidade de aumento na demanda de ônibus e horários. Confira o que já está sendo feito e quais os planos de ação para tirar essas mudanças do papel a seguir:
Bilhetagem eletrônica em quatro meses
Conforme Pereira, a maioria das mudanças sobre demanda de ônibus e aumento de horários dos ônibus está atrelada a adoção da bilhetagem eletrônica, o que deve acontecer nos próximos três ou quatro meses:
— A renovação é importante, primeiro, porque traz transparência nos dados. Hoje as anotações são em papel, o que gera erros e informação lenta, e atrapalha para analisarmos os horário e ajustes operacionais — disse.
Segundo ele, a atualização para bilhetagem eletrônica está em fase de tratativa com o poder público, que solicita a troca como contrapartida para que também possam analisar os dados de usuários e demandas. A expectativa é de que esteja implementada em até quatro meses.
Subsídio de R$ 9 milhões e possível aumento da passagem
Em maio de 2023 foi aprovado o repasse de R$ 9 milhões para a Coleurb (78%) e Codepas (22%). Os valores serão oriundos de verbas de custeio do Governo Federal.
Dos R$ 7,02 milhões repassados à Coleurb garantia a estabilidade do valor da passagem por 12 meses. Com o prazo encerrando no próximo mês, a nova gerência geral deve voltar a debater o assunto e é possível que haja aumento do preço da passagem.
— Acabamos de acertar um acordo coletivo com os funcionários e a mão-de-obra do sistema de transporte representa mais da metade do custo total. Então uma atualização no cálculo tarifário é evidente — adianta Pereira.
Troca de metade da frota em 2024
A troca da frota esteve entre as primeiras novidades anunciadas junto à troca da gerência da Coleurb. Segundo Pereira, ao menos metade da frota deve ser trocada ainda neste ano, entre veículos novos e seminovos, uma vez que a última troca havia sido feita em 2016. A substituição deve acontecer conforme urgência e qualidade da frota que está em uso:
— A gente enxerga que a frota real não é adequada para o serviço, então precisamos substituir e fazer a manutenção neste primeiro momento. Caminhamos para amenizar a situação da frota, abarcando praticamente metade da frota que opera agora.
Manutenção das paradas de ônibus
Quanto a manutenção das paradas de ônibus, a prefeitura afirma que mantém o reparo dos 1,1 mil abrigos na cidade. Desde o ano passado, 40% das paradas receberam algum tipo de reparo: 12 abrigos do modelo inovador, 12 concha e 62 do básico.
Para este ano, o foco será para padronização dos pontos das Avenidas Brasil e Presidente Vargas. Já estão dentro do planejamento a mudança de 60 pontos dos modelos básico e 24 inovador. A diferença entre eles é de que o modelo básico conta apenas com o telhado e um banco em madeira (foto acima), enquanto o modelo inovador tem proteção em acrílico nas laterais.
— Fazemos os reparos pelos bairros, já passamos pela Vera Cruz, Valinhos, Planaltina e o Centro. Quanto aos lugares que não há parada, é porque a dimensão do fluxo de pedestres impossibilita a instalação do abrigo — explica o secretário de Transportes e Serviços Gerais, Alexandre de Mello.