Por Julcemar Zilli, economista
Nos últimos 30 dias, o mercado de arroz teve aumento do preço em alguns estados. No Rio Grande do Sul, um dos maiores produtores de arroz do Brasil, o preço da saca de 50kg subiu de R$ 99,23 para R$ 116,28, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).
O aumento de quase 17% pode ser atribuído a uma série de fatores, com destaque para o excesso de chuvas que causou mortes e estragos no RS. Para contornar os potenciais aumentos no preço, o governo federal zerou a alíquota de importação de arroz de países fora do Mercosul. Mas o que exatamente significa esse aumento dos preços para consumidores e produtores?
Para entender melhor, precisamos primeiro examinar a raiz do problema. O Rio Grande do Sul é responsável por aproximadamente 70% da produção de arroz do país. A chuva excessiva interfere diretamente na produção, causando destruição das lavouras e dificuldades logísticas, além de prejudicar a qualidade do grão. Quando a produção é afetada dessa maneira, a oferta diminui e a consequência direta é o aumento dos preços.
Para os produtores de arroz o cenário é duplo. Por um lado, aqueles que conseguiram salvar suas colheitas podem comemorar o aumento dos preços, o que promete margens de lucro mais atraentes na colheita. Mas essa não é a realidade para todos. Muitos agricultores enfrentam prejuízos significativos devido às condições climáticas adversas. O aumento no preço pode não ser suficiente para cobrir as perdas provocadas pelas chuvas, que resultam em menos volume para venda e, em alguns casos, na perda da safra.
Por outro lado, os consumidores enfrentam uma pressão crescente no orçamento doméstico. O arroz é um dos alimentos básicos mais consumidos no Brasil e seu aumento de preço impacta diretamente o custo de vida. Para as famílias de baixa renda, essa elevação representa um peso ainda maior, visto que a alimentação ocupa uma parcela significativa do orçamento. A alta nos preços pode levar a uma redução no consumo ou à substituição do arroz por outros alimentos mais acessíveis, alterando hábitos alimentares tradicionais.
Além disso, esse aumento pode desencadear uma reação em cadeia na economia. O custo maior do arroz pode influenciar os preços em restaurantes e outros estabelecimentos de alimentação, que repassam esse custo aos consumidores. Isso pode resultar em inflação nos preços dos alimentos, afetando ainda mais a já fragilizada economia.
Portanto, enquanto alguns produtores podem temporariamente se beneficiar dos preços elevados, a verdade é que o cenário atual representa um desafio significativo tanto para agricultores quanto para consumidores. O aumento do preço do arroz no Rio Grande do Sul, embora em parte motivado por fatores climáticos, reflete uma vulnerabilidade maior no sistema agrícola do país.
Em última análise, a situação exige uma resposta coordenada. O governo, zerando a alíquota de importação de arroz, busca evitar o desabastecimento no mercado interno e garantir o arroz na mesa das famílias brasileiras. Além disso, investimentos em infraestrutura de armazenagem e distribuição dos produtos e apoio financeiro aos agricultores são essenciais para garantir a estabilidade do setor agrícola e proteger os consumidores dos choques de preço. Somente assim poderemos assegurar que o arroz continue a ocupar seu lugar de destaque na mesa dos brasileiros, sem pesar tanto no bolso.
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