
Agricultores da Feira do Produtor de Passo Fundo contabilizam perdas de até 70% da produção de hortaliças nas últimas semanas. Dos 62 feirantes, as 22 bancas que cultivam e vendem hortifruti têm prejuízos nas culturas mais procuradas pelos clientes, como alface, brócolis e repolho.
O motivo para a redução são a falta de chuva e as altas temperaturas. Passo Fundo e municípios do entorno têm enfrentado consecutivas ondas de calor, o que influencia diretamente na produção dos alimentos.
— Com o abafamento e aquecimento da terra, as culturas não conseguem se desenvolver. Os produtores plantam a muda e ela não desenvolve. Se põe a semente, ela germina com a irrigação, mas acaba morrendo por causa do solo escaldante, e assim não conseguem produzir — resumiu Mércio Michel, presidente da feira.
Um dos produtores com problemas é Edgar de Souza, 56 anos, da comunidade de São José. As verduras e vegetais folhosos se tornaram raros na banca. O jeito, segundo ele, foi focar nas frutas, que ainda apresentam algum retorno financeiro.
— Estão morrendo (as hortaliças). Ainda mais com os insetos, que gostam do calor, as plantas não desenvolvem. A gente molha e molha, mas não cresce — desabafa.
Segundo Michel, a maioria dos produtores ainda não repassou os custos ao consumidor:
— Mas se o cenário não mudar, não vai ter como (não passar). O produtor não consegue arcar sempre com os custos. Mantém o preço até onde dá para não perder o cliente, mas está difícil.
Segundo ele, o movimento na feira também vem caindo nos últimos anos. Com a falta de produtos, muitos feirantes estão deixando de expor na quarta-feira e optando pelas vendas apenas no sábado.
Arcam com o prejuízo
Feirante há mais de 20 anos, Gelson Badaloti costumava vender o pé de alface a R$ 3. Sem a hortaliça, indica a chicória, que tem o mesmo valor, mas gosto diferente. Por ser mais resistente ao calor, é o único vegetal folhoso que restou na banca.
O milho da produção do agricultor também foi afetado. Com as espigas menores que o normal, a maneira foi reunir o alimento em uma única sacola com cinco espigas por R$ 5.
— No momento estamos arcando com todo o prejuízo. Não podemos repassar no preço final, assim eu posso perder meu cliente. Vamos apertando do jeito que dá, mas está cada vez mais difícil. E isso se repete há anos — pontuou.