Tem atleta Gaúcho jogando no futsal da Arábia Saudita. Leandro Piva Chimango, o Chimanguinho fez a maior parte da sua carreira jogando no futsal italiano. Agora, desde o fim de 2023, o jogador, natural de Passo Fundo, está defendendo o Al-Nassr, da Arábia Saudita. O mesmo clube onde joga Cristiano Ronaldo. Entre suas idas e vindas dos treinamentos, o pivô, por vezes, esbarra no astro do futebol mundial.
Chimanguinho começou a sua carreira como jogador ainda muito jovem. Ele passou pelas categorias de base do Semeato Futsal, em Passo Fundo e, depois, foi para a Assoeva, de Venâncio Aires. Ele tentou a carreira no futebol de campo, passou pelo Inter, mas retornou para as quadras para a Assoeva. Aos 18 anos se transferiu para a Itália, onde jogou por 17 temporadas.
Em julho do ano passado, após o fim da temporada europeia, tirou as férias em Passo Fundo. Depois do longo período atuando no país, o jogador decidiu que era hora de se mudar em busca de novas experiências. A sua ideia era atuar em outros países da Europa, mas aí chegou a proposta do futsal árabe.
— No final das minhas férias, quando eu estava pronto para decidir qualquer coisa, chegou a proposta do Al-Nassr. Sem dúvida, eu não pensei duas vezes quando chegou a proposta, eu já disse sim, antes mesmo de olhar a parte financeira — revelou o atleta.
Futsal Árabe
O futsal é uma modalidade nova na Arábia Saudita. O país, que está chocando o mundo com contratações milionárias no futebol, agora volta as suas atenções para as quadras. Logicamente, o investimento é bem menor, mas aos poucos está crescendo e se tornando um atrativo para jogadores e treinadores.
No entanto, o nível competitivo ainda é baixo se comparado a outros grandes centros do futsal pelo mundo.
— O futsal aqui na Arábia Saudita começou há cinco anos atrás. Então, é um campeonato muito novo. Eles ainda estão engatinhando nessa modalidade, comparando a todos os outros países. Eu chegar nessa abertura de portas que está acontecendo hoje no mundo árabe, para a Liga Saudita de futsal, é uma gratidão imensa — destacou.
— Muita gente está voltando os olhos para o mundo árabe, seja por Cristiano Ronaldo, que ele veio aqui e abriu as portas.
No futsal, o país permite até três estrangeiros por equipe. Atualmente, a Liga Saudita conta com 20 clubes, que são divididos em dois grupos de 10. Ainda é raro acompanhar as partidas de futsal da competição, pois as tradicionais transmissões pela internet ainda não são comuns para o esporte no país.
O calendário de jogos da Arábia Saudita também é diferente dos demais países. A temporada inicia no fim de outubro e se estende até o final de maio. Neste período, tem uma pausa de um mês em dezembro. Depois recomeça em janeiro e para outra vez no início de março, por conta do Ramadan.
Mesmo morando há poucos meses no país, Chimanguinho conseguiu ver o tamanho da ambição dos árabes com o futsal. Ele acredita que em breve os investimentos vultuosos do futebol também devem ser realidade no futsal da Arábia Saudita.
— Eu estava conversando com os diretores aqui do time e eles têm ambição de crescer, de fazer crescer o futsal aqui. Não só no futsal, mas eles estão investindo bastante no basquete e no vôlei também — revelou o atleta.
— Tem muitos brasileiros vindo para cá. Ninguém sabe ainda, mas pode ser que o ano que vem seja permitido quatro ou cinco estrangeiros daqui dois anos. Isso vai fazer o nível do futsal aqui da Arábia subir ainda mais e vai abrir muito as portas e abrir os olhos do mundo inteiro, que é o que eles querem. Focar os olhos não só do futebol de campo, como Cristiano Ronaldo fez quando chegou aqui, mas eles querem tentar fazer isso aí para o futsal também.
Adaptação ao país
Chimanguino levou a sua esposa, Franciele, e os dois filhos para a Arábia Saudita. Apesar da diferença de cultura, o jogador afirmou que a família se adaptou com facilidade ao novo lar.
- Muita gente aqui na Arábia não fala inglês, fala somente o árabe. A comida, o tempero, trânsito, muita coisa para se adaptar. É um país que tem pouco verde, porque como a gente está no deserto, é mais areia, pedra e terra. É um país, assim, em questão de cor, não tem muita cor, só que eles são muito receptivos, são muito dedicados e querendo te ensinar para você aprender mais rápido.
Presença feminina no país
A Arábia Saudita também é conhecida por restrições às mulheres. Algo sentido pela sua esposa as primeiras semanas no país, mas hoje Chimanguinho afirma que se adaptou.
- Minha mulher, quando chegou aqui, também começou a se adaptar, comprou abaya, roupa para sair na rua, para não ser aquela mulher diferente, porque os árabes aqui, olha, uma mulher sem abaya, sem aquela roupa preta, já fica um olhando, mas não assim, desejando ou com malícia, mas porque é uma coisa diferente. A minha mulher no começo usava abaya, depois deixou de usar – disse.
- Hoje ela vive normal, vai no mercado, vai em qualquer lugar com a roupa normal dela, logicamente, que ela não pode botar as mesmas roupas que ela usava no Brasil, como uma calça mais colada, não pode aparecer o ombro, não pode aparecer joelho. Isso são regras deles – explicou.
A presença do público feminino nas partidas de futebol e futsal são novidades no país. Até pouco tempo atrás, as mulheres podiam assistir aos jogos somente pela televisão. Porém, em fevereiro de 2018, a Arábia Saudita deixou a proibição de lado e liberou a presença feminina nas arquibancadas. Mas ainda é um tabu a ser enfrentado.
- Mulher não podia entrar dentro do ginásio para assistir jogo de maneira alguma, era só homem. Hoje, muitos restaurantes têm parte para homem e outra para mulher. Por exemplo, eu levo meus filhos, às vezes, no McDonald's e lá mulher vai para um lado, homem para o outro. Tem vários lugares que isso é determinado, como nas academias, não existe academia para homem e mulher. Eles têm muita essa divisão entre o sexo masculino e feminino. Mas hoje as mulheres podem, tranquilamente, assistir os jogos no ginásio.
Convivência com famosos do futebol
A rotina de Chimanguinho nos treinos do Al-Nassr se confunde às vezes com a de alguns astros do time de futebol do clube. Isso acontece porque o centro de treinamentos do futsal é bem ao lado do futebol. Fato que às vezes gera alguns encontros inusitados no estacionamento, como por exemplo, com Cristiano Ronaldo.
- Quando eu recebi a proposta da Al-Nassr, antes mesmo de pensar qualquer coisa, a primeira coisa que veio na cabeça, foi Cristiano Ronaldo. Então, hoje, o que acontece? Hoje, a gente, eu treino no mesmo CT que ele. O que divide o campo de treino deles (do futebol) e o nosso ginásio é somente o estacionamento, onde eles colocam os carros – detalhou.
- A gente está quase todo dia se cruzando com os jogadores do campo. Tem o Alex Telles, que jogou no Grêmio, tem o Otávio, que jogou no Inter, o Anderson Talisca. então, a gente está ali conversando, trocando ideias do futsal, do futebol de campo e o Cristiano Ronaldo está sempre por ali.
Contato com Cristiano Ronaldo
No entanto, apesar da proximidade, o acesso ao jogador português não é fácil.
— O problema é que ele é rodeado de seguranças. O homem é quase intocável, mas como ele sabe que a gente é do futsal eu consegui já me aproximar dele, consegui tirar uma foto com ele. Ele conseguiu conversar com meus filhos, tirar foto com meus filhos, conversou com a minha mulher. Aquela coisa do Cristiano Ronaldo que parecia uma coisa impossível no mundo, hoje, eu não estou dizendo que está se tornando uma coisa normal do dia a dia.
— Todo o dia que eu estou no clube, eu olho para frente e muitas vezes está ele ali parado e a gente não acredita no que está acontecendo por estar tão perto — disse Chimanguinho.
Em um destes encontros, ambos se encontraram na saída de seus treinos, já no estacionamento. Houve tempo só para uma foto rapidamente. CR7 autografou a camisa dos filhos de Chimanguinho e a conversa foi rápida. No entanto, Franciele conseguiu conversar bastante com o português.
— A minha mulher conseguiu tirar foto com ele, conseguiu conversar com ele um pouco, explicou que nós somos de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. A mesma cidade do Felipão, que foi treinador dele. Daí ele falou: “sim, eu conheço. Tenho uma irmã que mora lá”, mas ele se referindo que a irmã mora no Rio Grande do Sul, em Gramado, e é casada com um brasileiro. Então teve essa conversa, coisa que raramente ele faz. Eu estou ali todo dia, eu vejo ele quase todo dia, ele está ali. Volta e meia ele tira foto com alguém, mas é tirar foto, entrar no carro e tchau.
Atualmente, o atleta passo-fundense consegue acompanhar os jogos e os treinos do futebol do Al-Nassr, quando não coincide com os compromissos do futsal.