Aos 26 anos, o gaiteiro Lucas Biazus realizou o sonho de muitos apaixonados pela cultura gaúcha: lançar uma canção com Gildinho, fundador do grupo Os Monarcas. O plano era lançar a música ao lado do cantor, mas o artista morreu em 11 de janeiro aos 82 anos em decorrência de um câncer.
A faixa saiu pouco mais de um mês depois, em 14 de fevereiro, nas plataformas de streaming (saiba onde ouvir abaixo). Em "Juramento de um Gaiteiro", os dois cantam a letra composta por Lucas, que se inspirou em conselhos transmitidos pelo próprio líder de Os Monarcas, como "honre sempre os compromissos se quiser ser bem falado".
A história da música começa ainda em 2016, quando Biazus, então com 17 anos, participou da gravação do DVD do grupo "Monarcas e os Novos Talentos". O projeto tinha como objetivo buscar crianças e jovens instrumentistas que poderiam ser tornar os novos nomes da música tradicionalista.
— Em um momento de conversa, com toda sua humildade e sabedoria, ele (Gildinho) nos contou de sua trajetória e deu alguns conselhos para aqueles talentos que estavam sendo apresentados para a música gaúcha — lembra Lucas.
Os conselhos ficaram na memória do jovem, que à época dava seus primeiros passos na música. Ao retornar para a cidade natal, São Valentim, ele compôs a música em parceria com o gaiteiro de Os Monarcas, Tiago Machado, amigo e ídolo de Lucas.
— Tive aulas com o Tiago por muitos anos. Lembro que fiz a letra em casa e em uma aula decidi pedir que ele me ajudasse na melodia. Quando mostrei a música, falei que tinha feito para o Gildinho. Combinamos de eu ir em um ensaio dos Monarcas e lá pedi se aceitaria gravar comigo. Ele aceitou na hora — conta.
Gaiteiro do grupo há mais de 20 anos, Tiago ajudou Lucas a fazer algumas correções na música antes de mostrar para o líder de Os Monarcas.
— Eu ajudo vários dos meus alunos, inclusive muitos que tocam em bandas, como é o caso do Lucas. Para mim é gratificante ver esse crescimento. Nós vamos plantando sementes e isso vai ajudando a cultura gaúcha a não se perder no tempo — disse.
Gildinho e Lucas cantaram juntos enquanto o jovem tocava gaita. A gravação também contou com a participação de outros músicos como Fabrício D’Favery (baixo), Vanclei da Rocha (bateria), Helinho (guitarra) e Zé Leandro (vocal).
— O lançamento da música acabou sendo adiado, esperando sempre o melhor momento e, por fim, não consegui fazer este lançamento com o Gildinho em vida. Mas, para não deixar se perder essa música que foi gravada por ele e escrita a partir dos seus conselhos, faço agora o lançamento dela nas plataformas digitais — conta Biazus.
Carreira musical
A paixão pela música começou cedo na vida de Lucas. Aos cincos anos ganhou a primeira gaita de presente dos pais, Janice e Giovani Biazus.
— Eles viram que me interessei pelo instrumento e compraram para que eu pudesse fazer algumas aulas. Mas o meu gosto pela música veio do meu avô paterno, Ângelo, que também era gaiteiro de galpão. Desde pequeno vivo e sou um grande admirador da nossa música gaúcha — disse.
Através da participação em rodeios e concursos de gaita, Lucas começou a colecionar troféus. Entre os citados por ele está o do Enart e Rodeio Internacional de Vacaria.
Além da música escrita para Gildinho, o gaiteiro também compôs outras canções como Gaudério é Peleador, Bicho Bugio, Me Divirto Trabalhando, Hora do Gole e Gaia Enfeitiçada. Todas foram gravadas pelo Grupo Vento Negro, do qual Biazus fez parte por dois anos.
De tanto seguir os conselhos de Gildinho, hoje Biazus é gaiteiro do conjunto Chiquito e Bordoneio, um dos mais tradicionais do Rio Grande do Sul.