Cães e gatos abandonados em Passo Fundo contam com o acolhimento de organizações e protetores independentes que se dedicam a tirá-los das ruas e encontrar novos lares responsáveis e seguros. Em muitos casos, são animais vítimas de maus-tratos que demandam atenção e cuidados médicos para a sobrevivência.
Essa é a rotina da professora Lê Correa há pelo menos 14 anos, que monitora bairros e vilas onde é comum que animais sejam abandonados pelos tutores. Sensibilizada pela causa, ela usa recursos próprios para resgatar cães e busca desenvolver um trabalho pedagógico para ensinar a melhor forma de cuidar dos animais.
— São muitos animais na rua, existem muitos casos de maus tratos. Há animais que até têm dono, mas são pessoas irresponsáveis que mantêm os animais em situações precárias — relata Lê, como é conhecida.
Em dezembro, reportagem de GZH Passo Fundo mostrou que a cidade registrou 890 denúncias de maus-tratos ou abandono de animais em 2023, número que equivale a mais de dois alertas de atos violentos contra gatos, cachorros e cavalos por dia. Conforme a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, quase 90% dos casos reportados são de maus-tratos.
Para fazer esse trabalho, ela usa recursos próprios e conta com doações de ração, além de contar com a ajuda de doadores e clínicas veterinárias que oferecem descontos no tratamento desses animais.
— A gente tira do nosso bolso e conta com a ajuda de algumas pessoas e da prefeitura. Mas, no geral, as protetoras usam o seu próprio dinheiro (para fazer esse trabalho), que é pouco. Fazemos a castração dos animais que não são castrados e, no caso dos animais doentes, procuramos conseguir a medicação — conta.
Quem também se mantém com ajuda de doações é a organização não-governamental (ONG) Adote um Gatinho, que resgata e divulga animais em busca de um novo lar há 11 anos em Passo Fundo. A médica veterinária Bruna Nardi entrou na entidade ainda na época da faculdade e, agora, é responsável por acompanhar as adoções, monitorar lares temporários e mantimentos ao lado de dezenas de voluntários que se dedicam gratuitamente em prol da causa.
Hoje, a organização resgata cerca de 80 gatos por mês e conta com o apoio da comunidade nas doações e lares temporários para continuar o trabalho de proteção com os animais. Além de buscar novos tutores, a ONG encaminha castrações e cuidados, como a aplicação de vermífugos e antipulgas.
— Temos zero ajuda pública, mas contamos com o apoio de pessoas maravilhosas que nos dão carona, doam mantimentos e até mesmo valores em dinheiro — conta Bruna.
Políticas públicas para o bem-estar animal
Para responder ao número de animais abandonados, Passo Fundo tem a Coordenadoria de Bem-Estar Animal. O programa, criado em 2017, oferece um Ambulatório de Saúde Animal e canal para denúncias de maus tratos, além da possibilidade de acessar a legislação de proteção animal e a rede protetora da cidade.
A coordenadoria inclui programas de castração, essencial para conter o avanço da população de gatos e cachorros nas ruas. Só em 2023, foram 3.294 castrações realizadas. Outro braço é o programa Acolhe Pet, que tem 15 vagas para cadastro de protetores independentes. Nessa modalidade, o poder público municipal paga R$ 74 por animal resgatado. Hoje, são nove protetores ativos na cidade.
— Cada protetor pode ter até 10 animais albergados. Também temos o banco de ração, que serve para protetores com cachorros castrados, tutores de baixa renda que se enquadram no CadÚnico e eventuais emergências — explica o secretário municipal de Meio Ambiente, Rafael Colussi.
Mas o trabalho dos protetores e entidades voltadas à proteção ultrapassa os aspectos práticos: o objetivo é conscientizar sobre os direitos dos animais e a importância que esses seres têm em nossas vidas:
— Sempre buscamos um jeito de conversar com as pessoas, tentar fazê-los enxergar que ali existe uma vida que também sente fome, sede e tem sentimentos. Por isso, devem ser bem cuidados e tratados — pontua Lê.