O governo Temer completa um ano em meio a turbulências. Na economia, a queda da inflação é o maior trunfo. Já o desemprego continua aumentando, sem sinais de reversão. A promessa de fim da recessão com o impeachment não se confirmou. Para isso, seria necessária a retomada dos investimentos, mas nem o setor público nem o privado podem servir de alavanca: o primeiro porque é limitado pela própria crise, motivo que também vale para o privado, com o agravante de este continuar na espera de que a crise política arrefeça. As propostas da equipe econômica concentram-se nas reformas, mas estas priorizam a estabilidade e não o crescimento. A convicção do discurso oficial é que, estabilizada, a economia voltaria "naturalmente" a crescer. Tese frágil, pois a estabilidade, embora seja condição necessária (ninguém investe numa economia com indicadores pífios e sem perspectiva de melhora), por si só não induz crescimento, que depende de muitas outras variáveis, inclusive políticas e institucionais. Algumas reformas só poderão impactar em prazo mais longo, como a trabalhista e a da Previdência; outras, como a PEC dos gastos, inclusive no curto prazo jogam contra a geração de renda e emprego.
O governo contava, para compensar sua escassa legitimidade, com a base congressual, mas mesmo esta está desembarcando. Optou-se, na reforma da Previdência, pela estratégia maximalista, mais conhecida como "bode na sala": propor algo bem drástico para depois ceder. Mas esta é arriscada, pois o ponto de limite da negociação é sempre uma incógnita. Só pode ser levada pelo jogador com atributos de liderança, caso contrário o cenário é o que vemos: quem apoia as reformas vê como fraqueza as "concessões", e quem é contra continuará contra, pois sua convicção já está feita. Neste aspecto, o deputado relator também não contribui ao admitir desconhecer os números das medidas que vem suprimindo (alegando que estão na Fazenda), e, o que é mais grave, das que vem acrescentando ao projeto inicial. Se a reforma previdenciária é tratada pelo governo como fundamentalmente financeira e contábil, como defendê-la sem números? Não se trata de dizer que reformas previdenciárias são, por sua natureza, impopulares, mas de admitir que, se isso é verdade, então a transparência deveria ser maior ainda. Se dados são sigilosos a ponto de serem sonegados ao próprio relator, como querer que a sociedade aceite passivamente?