Segundo a Folha de São Paulo, a Odebrecht realizou transação sigilosa com a Caixa Econômica Federal, pela qual esta comprou R$ 350 milhões de debêntures emitidos pela empresa para cobrir rombo referente à construção da Arena Corinthians, a qual também contou com a participação do BNDES no financiamento. Esse fato traz à baila um assunto tabu: a relação entre os clubes de futebol e o poder público.
O assunto é tabu não só por tal operação ter sido "sigilosa", mas porque a discussão em torno dele não prospera. Há denúncias, indagações, dúvidas... mas nada vai adiante. A austeridade no país é seletiva, o que a torna mais dolorida aos que pagam a conta, como os juros da dívida que ficam fora da PEC 241, pois esta só pega os gastos primários, como saúde e educação. Todos concordam em tese que é injusto, mas depois da concordância tudo segue igual: o silêncio são as palavras.
No caso do Itaquerão corintiano, há duas questões básicas, uma em cada ponta. Do lado estatal, por que instituições que deveriam concentrar sua atuação no financiamento à produção ou a obras de cunho social, como a aquisição de casa própria, deveriam financiar estádios? Consta que dirigentes do clube em pauta teriam afirmado, em sua defesa, que outros estádios também foram beneficiados, o que nos leva à outra ponta: a dos clubes. Estes aproveitam sua popularidade para barganhar privilégios junto ao poder público. Lembremos da arrogância dos dirigentes da Fifa antes da Copa, muitos deles hoje presos – no Exterior. Os clubes, quando lhes convém, são "empresas"; quando não convém, querem passar por associações beneméritas. Beneficiam-se de verbas públicas sem passar por instituições de fiscalização, às quais próprios órgãos do Estado são submetidos. Lembram o aventureiro predador de Sérgio Buarque: privatizam os ganhos e socializam os custos.
Se o futebol é um dos negócios mais lucrativos do planeta, e o tal clube paulista diz ter a maior torcida do Brasil, capaz de pagar salários milionários a seus atletas e faturar outros milhões só em publicidade, fica difícil saber por que precisaria de dinheiro público para construir a própria casa. Estima-se que o refinanciamento das dívidas dos clubes brasileiros com o Estado alcança, por baixo, R$ 4 bilhões. Não se fala na "repatriação" de tal dinheiro.