Raimundo Correia, em seu poema Mal Secreto, lamenta não se poder ver através da "máscara da face". O Comitê de Política Monetária (Copom), depois de manter a taxa básica de juro em 14,25% ao ano por 15 meses, parece que chegou a hora de mostrar a cara em sua próxima reunião, a ser realizada dia 19 próximo. Economia não combina com poesia, por isso vale explicar melhor. Contextos como o atual, de recessão com inflação, é o pior dos mundos para a autoridade monetária. Há o dilema entre manter juro alto, como o Copom fez até agora, mas que aprofunda o desemprego, ou optar por baixá-lo, com o risco de a inflação crescer. Os economistas dividem-se em contexto como este, com a ortodoxia pendendo fortemente para a primeira opção.
Ocorre que o cenário apresenta mudanças, e daí o teste para o Copom. Alguns fatores que serviam para justificar a alta taxa de juro modificaram-se. Na política, a turbulência é menor (já que calma nunca é), uma vez passada a crise do impeachment, arrastada por meses, e o primeiro turno da eleição, com resultados favoráveis à base governista. Já no campo da economia, os preços dos alimentos e dos serviços, que vinham puxando o índice para cima, dão sinais de estabilidade. E há certa expectativa de que o governo encontrará menos resistência no Congresso para passar as reformas impopulares do que se pensava inicialmente.
A alternativa mais arrojada seria o Copom cortar o juro em 0,5%. Ninguém acredita num corte maior, mas seria o sonhado pela área política do governo, ansiosa por uma notícia boa e para fazer crer que algo mudou com Temer. Não só de discursos otimistas se pode sobreviver, é preciso, também, mostrar resultados. Já os que apostam no conservadorismo do Copom acreditam na manutenção da taxa mais uma vez, o que sinalizaria com a mensagem de que só com as reformas a inflação de fato cederá. Entre os dois está o corte de 0,25%, adequado nesses trópicos em que as soluções plantadas como "intermediárias" são vendidas como negociação, tolerância e cordialidade. Por isso, aposto nesta última, mas a aposta mínima, pois a incerteza é muito grande e ganhar em jogo nunca foi meu forte.