Enquanto pesquisas revelam expectativas otimistas de empresários brasileiros quanto à superação da crise, a ida de Temer à ONU mostra que o mesmo não se verifica na leitura das seções de economia de importantes jornais estrangeiros. A fragmentação partidária é vista como obstáculo para o governo aprovar reformas impopulares. O impeachment sem a cassação dos direitos políticos da presidente amenizou a radicalização numa solução de compromisso, mas é difícil explicar para um estrangeiro. A primeira leitura é que tacitamente se entendeu que não houve crime, mas discordância das políticas do Executivo – ou, como alguém disse, um julgamento pelo "conjunto da obra". Ora, se no parlamentarismo é normal substituir o chefe de governo por discordância na condução da política econômica ou pelo desempenho, o mesmo não vale para chefe de Estado no presidencialismo: impeachment difere muito do voto de desconfiança parlamentarista.
O medo de que a moda pegue e haja consequências nefastas majoram a incerteza, inclusive por provável "efeito demonstração". Afinal, o tripé que criou ambiente propício ao impeachment é corriqueiro na América Latina: governos com minoria congressual, acusações de corrupção e crise econômica. O próprio Macri, próximo ideologicamente de Temer, substituiu o entusiasmo inicial por cautela quando olhou para a própria casa. Se há alguma coisa que os peronistas sabem fazer é oposição.
O conforto restante ao governo é que o principal parceiro comercial, a China, faz que nada vê. A questão política pouco afeta internamente um regime de partido único. Mais pragmática nas relações externas, apoia governos muito mais complicados quanto a valores ocidentais entre seus vizinhos asiáticos, na África e na própria América Latina. Com telhado de vidro, só em casos limites manifesta-se sobre política interna dos parceiros. Também nos Estados Unidos, em clima eleitoral, a reação de alguns parlamentares democratas parece ter se esvaziado frente à "ameaça Trump". Esta se tornar real ou não é a grande variável definidora de rotas futuras para a economia, tanto lá como aqui.