Em economia, não faz sentido falar em dívida "grande" ou "pequena" em abstrato, pois depende da capacidade do devedor em honrá-la. Para um trabalhador, o parâmetro de comparação é seu salário. Para um país, é o PIB (total da produção em um período).
A proposta do ministro Meirelles é reduzir a percentagem da dívida em relação ao PIB. Para tanto, prevê que os gastos cresçam no máximo conforme a inflação do ano anterior, ou seja, não aumentem seu valor real. Se o PIB crescer, ao longo dos anos tal percentagem vai baixando. A fórmula parece razoável por seu gradualismo, mas cabe perguntar: será que o PIB vai crescer à taxa desejável? O que está o governo fazendo nessa direção? Se a proposta é reduzir a relação dívida/PIB, poder-se-ia também lograr o resultado, pelo menos em parte, com o crescimento do denominador.
Para alavancar o crescimento do PIB, há basicamente três instrumentos: fiscal, monetário e cambial. O fiscal significa aumento de gastos e/ou diminuição de impostos. Além de difícil politicamente, vai na contramão do que se quer, que é diminuir o endividamento. Sobram os outros dois. O monetário, que é diminuir a taxa de juro e aumentar o crédito, também vem sendo manipulado contra o crescimento: juros altos podem ajudar no combate à inflação, mas inibem consumo e investimento, conspirando contra a produção e o emprego. Além do mais, acabam por afetar o terceiro instrumento, pois atraem dólares para o país, cujos aplicadores aproveitam as altas taxas, uma vez que nas principais economias são muito baixas ou até negativas. O real se valoriza e afeta negativamente as exportações. É o que vem acontecendo agora.
O governo parece apostar na hipótese de que basta mostrar credibilidade para o crescimento acontecer. Mas esta é demasiadamente otimista, pela simples razão de que todos os instrumentos de política econômica jogam em direção contrária. O mais provável, nesse quadro, é que se algum crescimento ocorrer será baixo, passageiro e errático. Se associasse políticas de crescimento a sua receita, o resultado poderia ser mais rápido, eficaz e com duração mais prolongada.