Oque o trio do título tem em comum? Nada, exceto ser o alvo das críticas de Trump. O Partido Republicano sagrouse, ao longo do século 20, por associar o conservadorismo moral e religioso com a defesa do capitalismo e do livre mercado. Trump veio mudar este último, ao responsabilizar pelo desemprego as importações da Ásia, os tratados de livre comércio e a entrada de imigrantes de vários matizes. Lembra mais os defensores do Brexit inglês e a direita xenófoba europeia. Para tanto, derrotou os caciques do partido, defensores intransigentes da globalização e do capital financeiro, contando com apoio das bases (o que não deixa de ser sintoma da democracia interna do partido, impensável no Brasil).
Susto recente: a convenção republicana aprovou o retorno da lei Glass-Steagall (1933), da época da Grande Depressão. Esta proíbe diversas operações com risco por parte dos bancos que recebem depósitos do público e aponta para o desmembramento das instituições financeiras "grandes demais para quebrar", as quais acabam recebendo injeção de dinheiro público. Isso mostra como os bancos são odiados pela classe média americana e, assim como na Europa, são apontados como os responsáveis pela crise. A lei só foi revogada em 1999, por Bill Clinton, o que até hoje rende a Hillary a simpatia (e o financiamento) da Wall Street. A esquerda do Partido Democrata nunca perdoou o casal por isso e, com a crise de 2008, começou a pedir a volta da lei. Agora, as bases republicanas engrossam o caldo, o que deixa o mundo financeiro dos EUA de cabelo em pé.
O candidato não é obrigado, se eleito, a seguir as decisões aprovadas, mas tudo isso é sintoma de algo novo, pois a defesa do livre mercado era ideologia oficial e dogma do partido. Muitos dizem que não passa de retórica de candidato, se for eleito mudará. Isso até pode acontecer, mas a experiência histórica, em casos semelhantes de líderes que se impõem pelo carisma, diz o contrário. Não se trata de discurso vazio, mas com eco em vários segmentos sociais de diversos países do primeiro mundo. Vir dos próprios republicanos a crítica à globalização e ao liberalismo surpreende, mas há razões objetivas para o descontentamento e alguém o canalizaria. A semente está plantada.